Politização dos católicos

O Centro de Estudos de História Religiosa da UCP ajuda a compreender as diversas sensibilidades religiosas nos séculos XIX e XX. No século XIX e na primeira metade do século XX os católicos portugueses potenciam “o sentido sacrificial e reparador” da vida, visto que são pessoas marcadas “pela vida sacramental” – sublinhou António Matos Ferreira, professor de História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa (UCP), nas jornadas de estudos sobre «Politização dos Católicos e Motivações Religiosas na Época Contemporânea». Durante dois dias, 9 e 10 de Maio, o Centro de Estudos de História Religiosa da UCP proporciona reflexões sobre a vivências cristã neste período da história. No pontificado de Leão XIII existe uma potenciação “das peregrinações e dos congressos Eucarísticos”. E realça António Matos Ferreira: “nota-se uma espiritualidade no sentido escatológico (dar a vida por Cristo)”. Ao reflectir sobre «Espiritualidade e militância católica nos inícios do século XX», o professor da UCP sublinha que “os católicos agem para restaurar a ordem social”. Esta densidade da vivência religiosa é uma forma de “inserção dos indivíduos na sociedade”. Ao analisar os primórdios do século passado, António Matos Ferreira salienta que os “católicos portugueses convergem no interesse da liberdade da igreja”. Esta liberdade não surge como algo pessoal, mas de “consciência colectiva”. Neste caminho, os católicos portugueses chegam “à política no sentido de defesa da religião”. E adianta: “há uma dinâmica fracturante entre o ser católico e o ser cidadão”. Uma reflexão que ajudou a compreender como na época contemporânea – em contexto de Monarquia Constitucional, da Primeira República, do Estado Novo e do Estado Democrático – os católicos descobrem, valorizam e situam, ou não, a actividade política como elemento da sua relação religiosa. O Centro Católico Português (CCP) foi fundado num congresso realizado em Braga em 8 de Agosto de 1917. Este foi o mote para a intervenção de João Miguel Almeida que reflectiu sobre «O agir religioso e político no quadro do Centro Católico». Em 18 de Dezembro de 1919, a encíclica de Bento XV aos prelados portugueses, apoia expressamente a criação do CCP. No dia 19 de Janeiro de 1920 começa a publicar-se «A União», órgão do Centro Católico Português. Tem como director António Lino Netto. No entanto viverá inúmeras polémicas com «A Época», jornal dirigido por José Fernando de Sousa (Nemo). Depois de um período de adormecimento, no II Congresso do CCP foram aprovadas as bases e foi eleito para presidente António Lino Neto, apoiado por António Pereira Forjaz. “Era fundamental uma reanimação e libertação da conotação monárquica e sidonista” – frisou o historiador João Almeida. Da anterior comissão central, saíam Pinheiro Torres e Fernando Sousa (Nemo), marcados por militância monárquica. Na segunda fase da sua vida, o CCP “ganha no fôlego e projecção”. Nas eleições de Julho de 1921, “elege dois deputados: Braga da Cruz e Oliveira Salazar”. Para compreender a articulação entre os campos religioso e político no Centro Católico Português, João Almeida sublinha que a relação entre Igreja e nação “não é entendida no sentido de primado de uma sobre a outra”. E completa: “a defesa da Igreja e da nação encontram-se interligadas”.

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