«Política, Cidadania e Religião» em destaque nas XIII Jornadas Culturais de Balsamão

A maneira como a Igreja se relacionou com o poder político, em finais do século XIX, deveria servir de exemplo para os católicos de hoje. Tratou-se de uma época de renovação clerical, marcada sobretudo pela afirmação dos leigos.  

Estas são algumas das ideias que marcaram o debate na 13ª edição das Jornadas Culturais de Balsamão, realizada neste mês de Setembro no Convento de Balsamão, em Macedo de Cavaleiros.  

A iniciativa é da responsabilidade do Centro Cultural de Balsamão e teve este ano como tema “Política, Cidadania e Religião”.

Segundo uma nota enviada à agência ECCLESIA pelos organizadores do evento, “em ano do centenário da I República e da Expulsão das Ordens e Congregações Religiosas”, oradores e participantes “procuraram reflectir sobre as relações entre a Religião e a República”

Numa conferência intitulada “Igreja e República: confronto e convivência em tempo de profunda mudança”, o professor Doutor Luís Amaral esclareceu que as dificuldades de relacionamento entre o poder religioso e o poder político fazem parte de “um processo longo que se arrasta desde o século XVIII, e que ainda hoje se verifica”.

O docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e especialista em História da Igreja, lembrou as dificuldades que a Igreja enfrentou naquela época, “sobretudo no período pombalino”.

Uma época onde a actuação do poder político procurou delimitar esferas de acção, secularizando a sociedade e atribuindo à Igreja apenas a parte espiritual.

Exemplo disso na altura foi a expulsão da Ordem dos jesuítas, que no período pombalino detinha um forte domínio nas esferas da corte, das missões, do ensino e da cultura intelectual.

O aparecimento da República, no século XX, viria a agudizar ainda mais as relações entre o poder político e a Igreja, com a expulsão das Ordens e Congregações Religiosas do nosso país.

Seria no período intermédio entre estes dois acontecimentos, o século XIX, que iria marcar a diferença e trazer alguma luz para a “redescoberta de um relacionamento possível” entre o Estado e a Igreja, adianta o docente da FLUP.

Para o orador, “o catolicismo do final do séc. XIX deveria ser, para os católicos do século XXI, um exemplo, não para copiarmos as soluções desse tempo, mas para nos inspirarmos nessa capacidade de acção”.

Apesar de a contestação ser “mil vezes mais forte que hoje”, adianta Luís Amaral, “vimos surgir uma efectiva capacidade de mobilização e militância, quer ao nível das cúpulas, quer acalentando movimentos que vão ter um papel extraordinário de intervenção”.

O especialista em História da Igreja referia-se a um processo de “fortalecimento do ponto de vista teológico e doutrinal, bem como do exercício pastoral”, que os clérigos conseguiram encetar.

O aparecimento dos leigos foi outra das grandes mais valias daquela altura, já que “foram chamados a desempenhar determinadas funções e acções cada vez mais visíveis e relevantes na sociedade”.

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