O poder económico está a dificultar o fim da crise. A constatação é feita por Alfredo Bruto da Costa, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, que indica haver um "deslocamento" de actores "do campo político para o campo económico". Uma situação que Bruto da Costa indica "ser prejudicial para a sociedade" e lugar comum "nas últimas décadas e nos dias de hoje".
O Presidente da CNJP denuncia a dominação do poder político por parte do poder económico. "Em alguns países é condicionado, noutros dominado", afirmou à Agência ECCLESIA à margem do Seminário «Crise Ética na Economia e na Política». "Um problema sério", que, indica o também presidente do Conselho Económico e Social "ocorre em Portugal".
Esta situação gera "descrédito" na população que não reconhece no poder político "força para promover as mudanças necessárias" e por isso, "prejudica o bem geral da sociedade".
O Seminário, que pretendeu reflectir sobre a crise ética nos campos político e económico, mostrou que a reflexão ética estava em déficit. Se da crise se podem tirar oportunidade, uma é a possibilidade de denunciar de forma pública questões éticas que andavam relegadas para a esfera privada.
Alfredo Bruto da Costa acrescenta que o individualismo que marcou as últimas décadas, e que mais influenciou o percurso da humanidade, "pode ser visto como um tipo de ética".
"Não se trata apenas de dizer que não havia ética" até a crise económica e financeira se instalar, mas "interessa perceber que tipo de ética é precisa" para a superar. O Presidente do Conselho Económico e Social chama a atenção para diferentes tipos de ética.
Por outro lado, "conhecemos um tempo de ausência de ética". Em especial os problemas económicos e financeiros, eram apresentados como "áreas neutras" do ponto de vista ético. Para abordar os problemas económicos eram "os técnicos da economia que eram auscultados" e a economia "é muito mais do que uma tecnocracia". Precisa o economista que a economia "afecta a vida das pessoas, o seu comportamento, influencia os critérios de felicidade".
Bruto da Costa afirma ser importante perceber o vazio ético onde impera "um discurso de uma pretensa neutralidade" e "o tipo de ética" que conduziu à presente situação de crise económica e financeira.
Sem apontar novos modelos de desenvolvimento, Alfredo Bruto da Costa indica que a mudança pede uma "preocupação ética na condução e no desenvolvimento da actividade económica e financeira". A segunda necessidade para uma mudança é uma reflexão sobre as finalidades. "Temos uma condução da economia dirigida para finalidades restritas e que, ao longo de décadas, concentraram os recursos e rendimentos na mão de poucos, mantendo dinâmicas de pobreza gritante, de fome e morte".
Segundo Alfredo Bruto da Costa, o progresso que houve tem sido muito lento comparativamente com a gravidade da situação.
A terceira necessidade indicada prende-se com o centro da discussão económica. "Quando discutimos a economia, centramo-nos nos meios, ou seja, no investimento, nas taxas de juro, e pouco nas finalidades da actividade económica, nomeadamente, no bem estar das pessoas e no bem comum da sociedade".
O Presidente da CNJP reconhece ser mais universal o "reconhecimento que não é qualquer tipo de progresso que faz a felicidade humana, que faz progredir as sociedades enquanto realidades humanas".
"Teremos de qualificar o progresso e distinguir o que é um instrumento para o progresso. Só se mostrará benéfico para um verdadeiro progresso humano se tiver em conta as grandes finalidades da actividade humana e as grandes preocupações éticas".
A crise que atravessamos é muito clara ao indicar a necessidade de rever os paradigmas económicos e financeiros, que dominaram nos últimos anos. Alfredo Bruto da Costa sublinha que "rever paradigmas não é uma mudança suficiente".
"Muitos já sabiam que estes modelos precisavam de mudanças, mas agora, temos a autoridade de Bento XVI a sublinhar essa necessidade".
Todos, e, "de modo particular as Comissões Justiça e Paz, têm também como missão contribuir para a mudança de paradigmas económicos e financeiros", indica o Presidente do organismo nacional.
A Comissão Nacional Justiça e Paz vai organizar uma conferência sobre a encíclica «Caritas in veritate» (Caridade na verdade) que Bento XVI publica esta Terça-feira.