Celebrações na localidade transmontana distinguem-se de outras iniciativas do carnaval português, sublinha pároco que acompanha comunidade
Lisboa, 13 fev 2024 (Ecclesia) – O padre Eduardo Novo, pároco na unidade pastoral de Macedo de Cavaleiros, considera que o entrudo “comunitário” de Podence, no território da Diocese de Bragança-Miranda, é uma celebração que aponta a uma nova fase social e religiosa.
“O espírito comunitário leva ao compromisso com as pessoas. E este compromisso alavanca esta realidade para o futuro, para uma realidade cada vez mais completa e complementar uns com os outros”, indica o religioso dos Marianos da Imaculada Conceição, ligado ao território transmontano.
O sacerdote sublinha que Podence e todo o Concelho de Macedo de Cavaleiros vivem o entrudo de forma “muito festiva”, que se distingue de outras iniciativas do carnaval português.
“Ao viver desta forma festiva, mostra-se também esta potencialidade, esta relação que existe entre a cultura, a tradição, o património, a humanidade e as pessoas, no seu concreto e no seu real”, indica o entrevistado.
Se durante o ano, vivem em Podence cerca de 200 pessoas, desde o sábado até hoje, dia de Carnaval, chegam à localidade milhares de pessoas.
“E é aqui que entra, de facto, a beleza das celebrações, naquilo que é recuperar a tradição, nesta contemporaneidade, dar-lhe também este sentido e, simultaneamente, deixar que possa ecoar para o futuro esta potencialidade”, sustenta o padre Eduardo Novo.
Encontramos, em todas estas dinâmicas, a procura da comunidade, a procura do encontro das pessoas e da relação humana. E aquilo que estas tradições podem potenciar é, efetivamente, encontrarmos futuro nos abraços do passado, vivendo o presente”.
O pároco na unidade pastoral de Macedo de Cavaleiros entende que a celebração do “entrudo”, mais do que o carnaval, aponta “no sentido de entrada para o tempo”, como acontece com a Quaresma, no calendário católico, a partir desta Quarta-feira de Cinzas.
“Este contexto cultural ou se quisermos, até, esta herança cultural, ajuda-nos nestas transformações que depois nos projetam e nos lançam. E é importante também termos o olhar da história, do passado, porque se nós não aprendermos, ou se nós não tivermos presente aquilo que é a história, aquilo que são as tradições, usos, costumes e saber o seu sentido e o seu significado, poderemos também deixar de continuar um legado”, conclui.
Em 2019, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, inscreveu os Caretos de Podence, de Trás-os-Montes, em Portugal, na lista de Património Imaterial da Humanidade.
Segundo a Unesco, o Carnaval de Podence “é uma prática social associada ao final do inverno e à chegada da primavera”.
OC
O dia de carnaval, que se celebra hoje, está ligado ao início do tempo da Quaresma, com as Cinzas, em datas determinadas pela Páscoa. A maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte. Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica viria a promover alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma. Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência. Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de caráter cómico. No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares. Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma. A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico. |