Pobreza: Papa questiona prioridades de uma sociedade que investe tanto dinheiro em «cosméticos»

Francisco concedeu entrevista ao jornal argentino «A Voz do Povo»

Cidade do Vaticano, 25 mai 2015 (Ecclesia) – O Papa concedeu uma entrevista ao diário argentino “A Voz do Povo”, onde aborda a pobreza no mundo e questiona as prioridades de uma sociedade que investe tanto dinheiro em “cosméticos” e outros bens mais supérfluos.

Depois de enumerar aqueles que considera serem os principais desafios do nosso tempo, “a pobreza, a corrupção e o cuidar das pessoas”, Francisco contrapõe com a estatística das áreas que hoje merecem maior investimento económico.

“Que itens vêm a seguir à alimentação, ao vestuário e à medicina? Em quarto vêm os cosméticos e em quinto estão os animais de estimação. Isto é grave”, observou o Papa argentino, para quem “o futuro de um povo” manifesta-se na capacidade que tem em “cuidar” dos seus membros, desde os jovens aos mais idosos.

“Se eu vivo apenas o presente sem ter em conta o futuro, vai acontecer comigo o mesmo que acontece com um administrador que não tem visão estratégica”, acrescenta Francisco, para quem a erradicação da pobreza pode ser considerada “uma utopia” mas são as utopias, os sonhos, “que levam as pessoas para diante”.

Na sua conversa com o jornal “A Voz do Povo”, o Papa enumera as situações que hoje mais o afligem, como os “cristãos perseguidos no Iraque”, o drama do “povo rohingya, que anda à deriva nas águas tailandesas” ou as crianças e jovens vítimas de “doenças raras”, relacionadas com o “descuido com o meio-ambiente”.

Admite ainda lidar com a “pressão” todos os dias, não só por causa do “ritmo de trabalho muito forte” que impõe a si mesmo mas também por fatores exteriores como a “comunicação social” que por vezes “toma as suas palavras e as descontextualiza”.

“No outro dia na Paróquia de Ostia, em Roma, estava a cumprimentar as pessoas, e tinham posto os mais idosos e doentes no ginásio. Quando passei por eles disse: ‘Vejam que divertido, colocaram os idosos e doentes onde brincam as crianças. Eu compreendo-os porque também tenho os meus achaques, sou um pouco doente’. No outro dia saiu nos jornais: ‘Papa admitiu que estava doente’. Contra esse inimigo não podes lutar”, frisou.

Sobre a sua vida particular, revela que normalmente o seu dia começa "às 4h00 da manhã", quando acorda sem despertador, fruto do seu “relógio biológico”; que "não vê televisão" há mais de 20 anos, devido a uma promessa feita a Nossa Senhora; e que aquilo que mais preza na sua missão  é o “contacto com as pessoas”.

“Fui para padre para estar com as pessoas e dou graças a Deus por nunca ter perdido esse sentimento. Psicologicamente não posso viver sem elas, não serviria para monge”, confidencia Francisco.

JCP 

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Agência ECCLESIA

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