Pobreza e problemas sociais preocupam a Igreja

CEP assinala os 40 anos da «Populorum Progressio» com a nota pastoral «Desenvolvimento e Solidariedade» “Pela profundidade e pela justeza dos seus ensinamentos, bem merecem ser relidos, meditados e postos em prática” – afirma a Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgada hoje (19 de Abril) e intitulada «Desenvolvimento e Solidariedade». No Passado dia 26 de Março, completaram-se quarenta anos após a publicação da encíclica “Populorum Progressio” (26.03.1967), designada “«encíclica da Ressurreição», por ter sido publicada no Domingo de Páscoa e por ter lançado um enorme raio de luz e de esperança, sobre os muitos milhões de seres humanos que, ao tempo, viviam oprimidos pela miséria e pelo subdesenvolvimento” – realça o documento. A «Populorum Progressio» foi a primeira encíclica publicada depois do II Concílio do Vaticano e também a primeira que abordou o tema do progresso e do desenvolvimento dos povos. “Fruto da lucidez e da visão profética do papa Paulo VI, colocou-se na linha de continuidade do Magistério da Igreja sobre a questão social, mas mostrou uma inovadora ousadia, tanto em relação ao tema como à forma de o tratar, com base nos ensinamentos conciliares” – acentua o documento da CEP. E acrescenta: “Daí resulta a sua flagrante actualidade, nos dias de hoje”. Há quarenta anos atrás vivia-se a época da descolonização dos povos. Nas relações internacionais, “predominava o sistema económico da livre troca, que tende a aumentar a riqueza e o poder dos poderosos enquanto confirma a miséria dos pobres”. Perante esta situação, as ajudas económicas dos países ricos “retardavam a autonomia e prolongavam a dependência dos países subdesenvolvidos. Era urgente contrariar o ciclo do desenvolvimento unilateral, destruidor de culturas e de seres humanos” – frisa a nota Pastoral. Paulo VI compreendeu a necessidade de se ultrapassar os “limites da dimensão económica e política do desenvolvimento e evidenciou o seu carácter ético e cultural”. Propôs, como modelo, “o desenvolvimento integral de “«todos os homens e do homem todo»”. Vinte anos depois da publicação da «encíclica da Ressurreição», João Paulo II comemorou esta data com a publicação da encíclica «Sollicitudo Rei Socialis» (30.12.1987). “Com ela propôs à Igreja e ao mundo uma releitura da encíclica do papa Paulo VI, ao mesmo tempo que fazia o balanço da sua recepção, aprofundava os conceitos de desenvolvimento e solidariedade e lançava a luz e a esperança do Evangelho sobre os problemas sociais e políticos, entretanto surgidos na cena internacional”. E fez o balanço do documento do seu antecessor: “os resultados foram positivos e valeu a pena o esforço dispendido” Reunida em Assembleia Plenária (de 16 a 19 de Abril), a CEP recordou estas datas e chama a atenção “dos fiéis católicos e de «todos os homens de boa vontade» do nosso país” para a importância destes notáveis documentos do magistério da Igreja. Os ensinamentos da «Populorum Progressio» eram acutilantes mas o fosso entre os ricos e os pobres, entre o Norte e o Sul, “tinha aumentado”. A Nota Pastoral da CEP afirma: “Alguns chegaram mesmo a afirmar que o desenvolvimento estagnou, devido ao mau uso dos recursos económicos, tanto pelo capitalismo liberal como pelo colectivismo marxista”. A avidez do lucro As directivas estão nestes documentos do magistério, mas as condições de vida agravaram-se – “cresceu a falta de habitação, o desemprego e o emprego precário” – e na cena internacional, “crescia o número de refugiados, aumentava o terrorismo e ampliavam-se os problemas demográficos”. A raiz destes problemas alimenta-se “das «estruturas de pecado», ancoradas, por sua vez, na avidez do lucro e na sede de poder” – sublinha o documento «Desenvolvimento e Solidariedade». O caminho da solidariedade “é complexo e difícil. Mas é possível. E a Igreja, sem assumir a responsabilidade da solução, que não lhe pertence, dá o seu contributo, oferecendo «princípios de reflexão, critérios de julgamento e directrizes de acção»” – adianta o nota da CEP. “O consumismo, a globalização, a deslocalização de empresas, a corrupção, o tráfico de pessoas humanas, de drogas e de influências são fenómenos que contribuem para ampliar a distância entre os ricos e os pobres. Basta pensar que uma escassa minoria da população é detentora da grande parte dos recursos” – realça o documento. Os problemas estão identificados mas muitos estão “dispostos a trabalhar em prol da reconciliação, da paz, da liberdade, da solidariedade, da subsidiariedade e da justiça” – finaliza. Notícias relacionadas • Nota Pastoral da CEP «Desenvolvimento e Solidariedade»

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