Pobreza: «Aumentos salariais deviam mexer com situação salarial geral» – investigador José António Pereirinha

Investigador esteve na conferencia da Comissão Nacional Justiça e Paz apresentando «cenários» para se atingir «patamares dignos»

Lisboa, 21 jan 2023 (Ecclesia) – O professor e investigador José António Pereirinha indicou o aumento de 27% no seu salário de uma pessoa singular para atingir um “patamar digno” e apontou a necessidade de se falar em “salários justos”.

“Para uma pessoa singular, o salário deveria ter um aumento de 27% para se alcançar um patamar digno. Para pessoas com situações familiares o aumento regista-se nos 14%”, precisou o professor de Economia do Bem-Estar e Economia Pública, na Universidade de Lisboa, um dos intervenientes na conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP).

O especialista referia-se a “cenários” durante a sua intervenção sobre «Rendimento condigno em Portugal», referindo a necessidade de uma mudança: “Falar não apenas em salário digno, mas passarmos a falar em salário justo”.

José António Pereirinha, referindo o seu trabalho de investigação, apontou o elevado “salário máximo” que existe em Portugal.

“Um dirigente da confederação patronal chegou a dizer que os salários máximos eram imorais. Diminuir o máximo poderia permitir aumentar o médio e o mínimo. Mas ninguém foi favorável a este cenário”, lamentou.

Outro cenário focado na apresentação do estudo, durante a conferência «Salários justos contra a pobreza – Trabalhadores e Empresários Cristãos em Diálogo», o professor indicou ainda a possibilidade de um terceiro cenário, que faria aumentar em “30% todos os salários de forma igualitária”.

O especialista referiu ainda que “qualquer aumento salarial” terá “repercussões na distribuição de rendimentos” e que não se pode aumentar o “salário mínimo” sem ter em conta “toda a situação salarial geral”.

Na conferencia anual da CNJP, realizada em parceria com a Cáritas Portuguesa, a Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores cristãos, A Juventude Operária Católica, a Associação Cristã de Empresários e Gestores, a Ação Católica Rural e o Metanoia, foi ainda apresentado o relatório da Cáritas Cares 2022 sobre mercados de trabalhos inclusivos.

José Serôdio, iniciou a apresentação do relatório referindo a diferença do salário nacional quando comprado com o salário da média europeia.

“Em 2022, o salário em Portugal representa 74,6% do salário da União mostrando um decréscimo de 1.6 do salário médio em Portugal face ao salário médio europeu. A saída dos jovens qualificados e o envelhecimento da população compromete a situação da economia portuguesa”, frisou o secretário da direção da Cáritas Portuguesa.

No mercado português, continuou, encontram-se “diversos tipos de trabalho”, desde aquele em que o “trabalhador tem um contrato permanente, onde espera chegar à reforma e tem o seu salário tabelado” até situações com trabalhadores “refugiados e imigrantes, sem qualificações reconhecidas, com condições abaixo do salário mínimo nacional, sem documentação regular”, correspondendo a situações de grande desfavorecimento social.

José Serôdio frisou que grande parte dos trabalhadores estão à margem, com baixos rendimentos, e com o aumento das desigualdades têm surgidos “novos pobres”.

“A taxa de risco de pobreza atingiu 19.5% em 2014, tendo ganho uma diminuição nos últimos anos, mas aguardam-se os dados no pós-pandemia. Os resultados preliminares indicavam 19.4%”, apresentou.

José Serôdio frisou ainda que os que mais sofrem com a desigualdade salarial são “os jovens com uma educação desadequada, os imigrantes, comunidades ciganas, mães cuidadores, pessoas com deficiência e trabalhadores com baixo salário e cuidadores mal pagos”.

A conferência da CNJP apresentou um manifesto para pedir que o salário justo em Portugal seja “um desígnio nacional prioritário” e foi subscrito pela Ação Católica Rural, Associação Cristã de Empresários e Gestores, Cáritas Portuguesa, Comissão Nacional Justiça e Paz, Juventude Operária Católica, Liga Operária Católica – Movimento dos Trabalhadores Cristãos e Metanoia – Movimento Católico de Profissionais.

LS

Pobreza: Trabalhadores e empresários pedem salários justos

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Agência ECCLESIA

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