As igrejas locais, “geralmente instaladas no seu marasmo”, não repararam que João Paulo II disse que «a missão ad gentes está no seu começo» (n.40). “As dificuldades internas e externas, vividas pelas igrejas locais, não permitem atender a essa realidade que até julgavam no fim. Aliás em tempos da dita «nova evangelização» há tanto a fazer por cá! E gastámos tanto tempo em questões de liturgia, de ritual… Pobre missão esquecida!” – proferiu, hoje, D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, nas Jornadas Missionárias, a realizar em Fátima. Com uma conferência subordinada ao tema «Missão ad gentes e comunhão das Igrejas locais», o bispo auxiliar de Lisboa recordou que comunhão das igrejas locais com a missão ad gentes acontece numa “situação nova do agir missionário”. “Hoje a fé não é mais herança cultural recebida da família ou da sociedade, mas resposta pessoal a um apelo. A novidade desconcertante do nosso universo cultural exige um anúncio novo do Evangelho, um modo novo de pôr em marcha a força da proposta evangélica. A maioria da oferta pastoral situa-se ainda no quadro da velha cristandade que não volta mais”. O conceito de missão, hoje e no futuro, “terá de se despir de muitos fardos e roupagens e partir da categoria de testemunho. Há um modo de comunicar a fé aos outros, e de criar uma relação que ultrapassa a forma colonialista, paternalista e «endoutrinadora»” – disse D. Carlos Azevedo aos participantes. Na carta apostólica Novo Millenio ineunte, João Paulo II afirma: “É nas igrejas locais que se podem estabelecer as linhas programáticas concretas – objectivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes, busca dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura através do testemunho dos valores evangélicos.” O pedido do Papa para um relançamento pastoral das comunidades locais “caiu, na maioria dos casos, no vazio”. Esse vasto horizonte “emperra nas metas imediatas e curtas de cada realidade eclesial. Andar entretidos em questiúnculas internas, litúrgicas ou rituais, pode ser muito grave diante da vasta missão” – frisou. Urge quebrar a tendência de cada igreja local a “fechar-se sobre si mesma e a perder o sentido da missão aberto ao mundo todo”. As velhas cristandades “andam perturbadas, sem ver caminhos novos e sentem que precisam de canalizar para si todas as energias. As igrejas jovens já começam, graças ao florescimento vocacional, a enviar presbíteros, religiosos e religiosas às igrejas antigas” – concluiu.