«Piedade sem caridade é apenas teatro religioso»

D. Pio Alves insistiu em Fátima na necessidade de os cristãos se comprometerem na ajuda ao próximo

Fátima, Santarém, 13 set 2012 (Ecclesia) – D. Pio Alves, um dos bispos auxiliares do Porto, insistiu esta quarta e quinta-feira em Fátima na necessidade de os cristãos se comprometerem com a prática efetiva da solidariedade.

“Piedade sem caridade é apenas teatro religioso”, afirmou hoje o prelado na Cova da Iria, durante a homilia da missa da peregrinação aniversária de setembro ao santuário localizado na Diocese de Leiria-Fátima.

Um cristão “não pode fazer de conta que não vê, que não ouve, que não sabe, que não pode, que não é consigo, que outros farão, que as autoridades resolvam”, sublinhou, acrescentando que “há um âmbito de responsabilidade pessoal que é inalienável, e sem cujo exercício não há estrutura social capaz de responder adequadamente”.

Os deveres dos cristãos “não se resolvem apenas com a legítima crítica a quem supostamente governou ou governa desgovernadamente”, frisou o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens culturais e Comunicações Sociais.

“A fome, a sede, a falta de teto, o frio, a nudez, a doença, a ausência de liberdade são estigmas que vão invadindo, como mancha de azeite, a nossa sociedade, umas vezes escancaradamente, outras no silêncio envergonhado de quem ainda mal acordou para uma nova realidade”, referiu.

Na homilia centrada no tema “construtores de uma sociedade solidária”, que o Santuário de Fátima propõe em setembro, D. Pio Alves sustentou que “os exemplos de caridade efetiva” e “heroica” das primeiras comunidades cristãs “não são gestos ultrapassados” e “incompatíveis com o estilo da sociedade atual”.

Na missa celebrada quarta-feira à noite o responsável salientou que é mais importante ajudar o próximo do que procurar responsáveis pela crise.

“Peço-vos que não comeceis a buscar já culpados, ou, melhor, corresponsáveis na culpa dos desastres sociais, que os há, certamente. Convido-vos a que tenteis, primeiro, responder à pergunta: que posso eu fazer pelo verdadeiro progresso daqueles que me são mais próximos?”, disse.

O cuidado pelos mais necessitados deve passar das palavras ao atos: “Convido-vos (…) a não olhar para tão longe de nós próprios que fiquemos apenas por sentimentos genéricos de solidariedade.

Depois de indicar que os católicos devem ultrapassar os limites das suas “necessidades pessoais”, D. Pio Alves pediu aos fiéis para darem atenção às carências dos “portugueses”, em particular dos “familiares” e “vizinhos”.

O prelado refutou a “acusação indiscriminada de ‘assistencialismo’ feita a quem, no dia a dia responde, com obras, à fome, à sede, ao frio”, trabalho que é desempenhado por milhares de pessoas, voluntárias e profissionais, ao serviço de centenas de instituições católicas.

“Quem está a morrer de fome não poderá esperar um ano, um mês, uma semana que seja até que se resolvam problemas estruturais”, acentuou D. Pio Alves, acrescentando que a “atenção urgente a situações-limite não dispensa a reconsideração ponderada de modelos alternativos de sociedade”.

O bispo auxiliar deplorou a pobreza mas realçou que é ainda mais “lamentável” a existência de pessoas e organismos que “sub-repticiamente” vivem “à custa da pobreza alheia”, dado que “a dádiva verdadeira nunca pode ser nem parecer negócio”.

RJM

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