“A velhice é uma idade como as outras, simplesmente a cultura de hoje não a privilegia. É preciso remar contra a maré, porque as pessoas velhas são dignas”. A conclusão é do Pe. Jorge Cunha, Director-Adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia, extraída durante a terceira conferência, sob o tema “A condição da pessoa idosa”. Jorge Cunha encerrou o ciclo de três conferências “Condição de doente, condição de idoso”, uma iniciativa, da paróquia de Carregosa e da Comissão de Assistência Social, integrada nos 25 anos de actividade desta instituição. Na mesa estiveram para além do conferencista, a vereadora da Acção Social da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, o presidente da Junta de Carregosa, Diamantino Melo, o padre Artur Pinto e o presidente da Comissão de Assistência Social, José Amorim, bem como António Rebelo, que moderou. O professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Porto lembrou que ao longo dos tempos, todas as gerações tiveram necessidade de pensar nisto, de modo “a tornarem-se solidárias com os idosos”. No presente, manifestou a esperança de que “muito menos pessoas a trabalhar vão ter capacidade para produzir uma grande riqueza. Temos é que a distribuir melhor e, então, os velhos não serão armazenados, mas integrados”, alvitrou. Numa altura em que se fala insistentemente da eutanásia, como recentemente admitiram alguns oncologistas, Jorge Cunha opôs-se liminarmente, porque, do ponto de vista cristão, “a vida é uma dádiva e ninguém pode antecipar a sua hora”. Em contrapartida defendeu “uma cultura e uma sociedade solidária entre gerações” como a forma de “nos livrarmos da tentação de acabarmos com a vida”. Antes aquele sacerdote apresentou as diferenças entre a pessoa idosa, associada à família patriarcal ou alargada, na cultura antiga, em que se privilegiavam valores como a sabedoria e o respeito e os idosos eram incluídos, e a família nuclear actual, voltada para o futuro, para valores como os da técnica e da competição e em que a pessoa idosa não tem lugar, sendo até desconsiderada e marginalizada. “Na cultura antiga, envelhecer era um caminho para a maturidade e para a autoridade, havia o sentimento de segurança e de inclusão. Na de hoje, envelhecer é um caminho para a margem do rio da vida, para a solidão”, acrescentou o sacerdote. Cultivar o sentido da vida Perante esta situação, o padre Jorge Cunha defendeu “uma mudança de atitude pessoal, mas também cultural e social. É urgente aprender a envelhecer, cultivando o sentido da vida, a autonomia, desenvolvendo hábitos e centros de interesse, uma espiritualidade, guardando que fazer, resistindo à melancolia, combatendo a amargura e preparando a morte e a vida eterna”. No plano da mudança cultural lembrou que a pessoa humana “vale por aquilo que é, não vive só de pão, mas também da relação, da proximidade, da interacção. O ser humano não se desenvolve pelo ter mais, mas pelo ser mais e a idade não pode ser apenas um acréscimo de anos e de tédio, mas um acréscimo de ser, de gratidão e de alegria”. Solidariedade em vez do Estado social Quanto à mudança social apontou a solidariedade social em vez do Estado social como um sinal de que “nos sentimos próximos do nosso semelhante”. A finalizar tão esclarecedora intervenção, o Pe. Jorge Cunha acrescentou que “a qualidade de vida da pessoa idosa não diminui com o avanço dos anos, não perde valor, ganha-o” e, por isso, “não pode ser comparada com índices económicos nem subtilmente manipulada”. Jorge Cunha encerrou o ciclo de três conferências “Condição de doente, condição de idoso”, uma iniciativa da paróquia de Carregosa e da Comissão de Assistência Social, integrada nos 25 anos de actividade desta instituição. Mais voluntários precisam-se O presidente da Comissão de Assistência Social de Carregosa fez um apelo à entrada de novos voluntários “que queiram participar neste trabalho da Comissão de Assistência Social. A maior parte dos elementos já são reformados e, por isso, as portas estão abertas”, apelou José Amorim. O apelo foi secundado pelo presidente da Junta de Freguesia. Diamantino Melo salientou que “a Comissão de Assistência Social está muito bem servida, mas apareçam mais voluntários, porque pode melhorar muito a vida dos que menos têm e aconchegar as pessoas”. O autarca leu as duas primeiras actas, datadas de Dezembro de 1973, da então denominada Comissão Paroquial de Assistência aos Pobres, que nove anos depois nasceria oficialmente, com o nome de Comissão de Assistência Social. Antes de iniciar a sua intervenção, Jorge Cunha elogiou o padre Artur Pinto, considerando-o “um sacerdote muito zeloso e preocupado com a qualidade do trabalho desenvolvido e que a todos dignifica”.