Pessoas regressam à religião, mas não à Igreja

Jornadas de Teologia no Porto abordam «renovado interesse» no fenómeno religioso nas sociedades actuais O apontado regresso do fenómeno religioso, não só na sociedade portuguesa, mas na Europa também, dá o mote à reflexão das Jornadas de Teologia, organizadas pela Faculdade de Teologia (FT) da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. O Director-Adjunto do núcleo do Porto, Pe. Jorge Teixeira da Cunha, regista à Agência ECCLESIA “um interesse renovado no religioso, tanto a nível teórico como prático”. O religioso não é mais considerado como uma dimensão periférica da vida, “mas central”. As ciências humanas acompanham o fenómeno religioso de outra forma – a psicologia e a sociologia reflectem sobre o religioso como uma dimensão fundamental da vida. Uma dimensão que “não vai desaparecer, que é permanente, ao contrário do espírito moderno e do laicismo que pensou que o religioso estava destinado a desaparecer dentro de algumas gerações”, aponta o Director-Adjunto do núcleo do Porto da FT. Quanto mais crescia a razão, mais diminuía a religião. “Mas não é assim”. O religioso é uma “dimensão do espírito humano” e uma dimensão da “cultura e da sociedade humana” que “permanece e que representa um valor”. O Pe. Jorge Teixeira da Cunha reconhece que o religioso adquire várias dimensões, também sob a capa de superstições e esoterismos, “menos purificadas pela razão, que estão também de regresso”, avança. No entanto, no contexto das Jornadas de Teologia, a reflexão incide sobre a nova dimensão da espiritualidade cristã. Daí que, aponta o Pe. Jorge Teixeira Cunha, “toma-se o religioso como sinónimo da religião, enquanto abertura do espírito humano à transcendência absoluta”. Quais as características novas do regresso do religioso? Seguramente o fenómeno do “cristão não praticante”. As Jornadas de Teologia da UCP, no Porto, querem reflectir sobre a relação “dessas pessoas com a hierarquia, com a Igreja, com a fé explícita”. Um regresso das pessoas a Deus, “mesmo quando esse regresso não é à moral ou à Igreja”, aponta. O Director aponta uma “mistura de vários factores”. O fenómeno sincrético de espiritual, de crença explícita em Deus, mas que “não se nomeia, apenas se sente como necessidade”, que interessa compreender e mostrar na sua dimensão social. Não é só a sociedade a mudar. O religioso também muda muito. «O regresso do religioso e o religioso como regresso» “é uma provocação ao retorno da espiritualidade da religião, mas não significa um regresso à Igreja ou à cristandade”. “É outra coisa, com fronteiras imprecisas e contornos indefinidos”, explica o Pe. Jorge Teixeira Cunha. Este retorno representa “uma necessidade da pessoa mas não conduz à congregação da Igreja e às pautas da moral”. Esta reflexão não se restringe ao nível teórico, ganha importância nas práticas pastorais. “Esta poderá ser uma notícia boa, pois significa que há muitas pessoas que acreditam em Deus mesmo não solicitando os nossos serviços”, avança. Mas por outro lado, “complica-nos a vida”, admite o director, “na medida em que temos de pensar na presença da Igreja na sociedade, não como numa condução de pessoas que estão acessíveis à pastoral e pertencentes à congregação da Igreja, mas vivem outra dimensão que nos escapa”. Esta nova forma de pertença menos explícita e directa a Deus “é dolorosa e um grande desafio para nós”.

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