Mestre do barco «Virgem do Sameiro» vai oferecer o terço que acompanhou os náufragos a Nossa Senhora de Fátima
Lisboa, 05 dez 2011 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga pediu este domingo às “entidades públicas” que deem aos pescadores “maiores garantias de tranquilidade no imprevisível do mar traiçoeiro”, na sequência do resgate dos seis náufragos do barco ‘Virgem do Sameiro’.
Na missa de ação de graças pelo salvamento, realizada em Caxinas, Vila do Conde, que segundo o jornal ‘Diário do Minho’ juntou mais de três mil pessoas, D. Jorge Ortiga convidou os náufragos a aliarem os “conhecimentos técnicos com o reconhecimento da humildade” para evitarem correr “riscos desnecessários”.
O prelado lembrou o papel da Força Aérea na recuperação dos pescadores, esta sexta-feira, após 60 horas numa balsa em alto mar: “Fostes salvos por causa da vossa esperança! Salvos por homens desconhecidos. Talvez nunca mais vos voltareis a encontrar. Mas, a vossa vida deve-se a eles”.
O arcebispo primaz, que presidiu à eucaristia, enalteceu a fé dos náufragos, quatro dos quais presentes na celebração, a quem restou “apenas a oração que mantinha acesa a ínfima esperança de uma possível salvação”.
“A vida venceu e sentimos a necessidade de mostrar que na oração, sendo prece que invoca ou atitude de quem agradece, estamos unidos a dar um testemunho que deve passar para a vida: em todas as horas vale a pena orar porque Deus nunca nos abandona”, salientou.
Referindo-se ao nome da embarcação, ‘Virgem do Sameiro’, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social recordou “Maria, a Mãe”, a quem os náufragos estiveram ligados através do terço: “Porque esteve sempre com Cristo, Maria nunca desistiu! Nunca se atirou ao mar do desânimo”.
Para o prelado a recuperação dos pescadores foi um “milagre”, não por causa de um “fenómeno sobrenatural ou um facto cientificamente não comprovado”, mas porque os náufragos vivenciaram “o que é sentir a salvação/resgate/presença de Deus numa hora de aflição extrema”.
“Se uns defendem que o vosso resgate foi mera casualidade, somente vós sabeis o que é presenciar este sinal salvífico de Deus nas vossas vidas”, disse o arcebispo aos pescadores, que chamou pelo nome.
Depois de lhes pedir “que guardem para sempre este acontecimento nas suas memórias”, D. Jorge Ortiga encorajou os náufragos a testemunhá-lo: “Façam o favor de o contar, vezes sem conta, aos vossos familiares e amigos, nos momentos em que eles também perderem a esperança na vida”.
“Acredito que foi a fé que nos manteve vivos”, afirmou o mestre da embarcação, José Manuel Coentrão, adiantando que o terço rezado durante o naufrágio vai ser oferecido a Nossa Senhora de Fátima.
D. Jorge Ortiga, que no fim da missa proferiu a oração de consagração ao Imaculado Coração de Maria, realçou “a união” da comunidade paroquial de Caxinas, “muitas vezes, fustigada pela crueldade de vidas ceifadas”.
“A minha pele está toda arrepiada, nem acredito que esteve tanta gente aqui; eu não estou ainda em mim”, disse o mestre, que agradeceu as mensagens de solidariedade recebidas de vários pontos do país.
Na homilia o arcebispo de Braga referiu ainda que “as rádios e as televisões não estarão presentes nos atos de generosidade que, voluntária e silenciosamente” a Igreja oferece às “pessoas perdidas nas águas agitadas da vida moderna”, mas Deus “verá esse amor generoso e gratuito”.
RJM