Peru: Papa faz novas críticas ao «grave pecado da corrupção»

Cerca de um milhão de pessoas no adeus a Francisco, com alertas para a degradação da vida nas cidades

Lima, 21 jan 2018 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à última Missa da sua viagem ao Peru, perante uma multidão estimada em cerca de um milhão de pessoas, condenando de novo o que classificou como “grave pecado” da corrupção.

“Jesus atravessa a cidade com os seus discípulos e começa a ver, a escutar, a prestar atenção àqueles que sucumbiram sob o manto da indiferença, lapidados pelo grave pecado da corrupção”, disse, na homilia da celebração.

Horas antes, num encontro com os bispos católicos no Peru, Francisco tinha criticado a corrupção e o “capitalismo liberal desumano” na América Latina e afirmado que “a política está doente”; na sexta-feira, discursando perante autoridades políticas em Lima, o pontífice tinha falado na corrupção como um “vírus social”.

O Papa chegou à base aérea de Las Palmas, nos arredores da capital, após um percurso em papamóvel no qual foi saudado por milhares de pessoas, à imagem do que aconteceu desde que chegou ao Peru, na quinta-feira, vindo do Chile, onde tinha começado a sua 22ª viagem internacional, na segunda-feira.

Citando a encíclica ‘Spe Salvi’, de Bento XVI, o pontífice sustentou que uma sociedade que não aceita os que sofrem “é uma sociedade cruel e desumana”.

Francisco convidou as comunidades católicas a colocar-se em “movimento” para ir ao encontro das dificuldades da sociedade, em particular nas “situações de sofrimento e injustiça” que se repetem nas cidades.

A homilia evocou, em particular, os que vivem “à margem”, sem condições para uma vida digna.

“Custa ver que muitas vezes, entre estes ‘resíduos’ humanos, se encontram rostos de tantas crianças e adolescentes; encontra-se o rosto do futuro”, advertiu o Papa.

O pontífice retomou uma das ideias mais presentes nas suas intervenções, advertindo contra a “globalização da indiferença”, que torna as pessoas “surdas” face aos outros, “seres impessoais de coração asséptico”.

Neste cenário, sublinhou, os cristãos são chamados a “atravessar a cidade” com Jesus, “Deus que mistura a sua vida com a vida do seu povo”.

“Que a degradação seja superada pela fraternidade, a injustiça vencida pela solidariedade e a violência apagada com as armas da paz”, apelou Francisco.

Atrás do altar da celebração encontra-se exposta a imagem do Senhor dos Milagres, muito venerada no Peru.

O Papa despediu-se com uma palavra de agradecimento aos bispos peruanos e a todos os que tornaram possível que esta visita “deixasse uma marca” no seu coração, dos voluntários às autoridades políticas.

“Fez-me bem encontrar-me com vocês”, declarou, elogiando o Peru como “terra de esperança”.

“Levo-vos no coração, que Deus vos abençoe! E peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim”, concluiu, sob os aplausos da multidão.

A Base Aérea teve 17 portas de acesso para os peregrinos, que enfrentaram um dia de forte calor, seguindo a celebração através de ecrãs gigantes e altifalantes espalhados ao longo do recinto.

Após a Missa, o Papa segue até ao aeroporto militar de Lima para a cerimónia de despedida, iniciando o regresso a Roma, onde o voo papal deverá chegar às 14h15 (13h15 em Lisboa) desta segunda-feira.

OC

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Agência ECCLESIA

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