Sindicatos contestam medidas de defesa do ambiente propostas para a cidade de La Oroya, «uma das 10 mais contaminadas do mundo»
O arcebispo de Huancayo, arquidiocese do Peru, recebeu ameaças de morte devido ao seu empenho ecologista. As intimidações, publicadas em jornais nacionais e locais, foram assinadas por sindicatos que representam trabalhadores da Doe Run, empresa de origem norte-americana instalada na cidade de La Oroya.
Enquanto alguns sectores sindicais consideram que a obra do arcebispo em defesa do meio ambiente coloca os empregos em risco, outros defendem a acção do prelado: a 13 de Junho, três sindicatos enviaram-lhe uma carta de solidariedade, condenando as ameaças.
Em nota divulgada a semana passada, o presidente dos bispos do Peru, D. Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, repudiou as ameaças que D. Pedro Barreto Jimeno vem recebendo “pelo seu trabalho pastoral em defesa da vida, da saúde, do trabalho e pelo cuidado com os bens da criação, dons preciosos de Deus para todo o ser humano e para as futuras gerações”.
“Lamentamos que a sua preocupação pastoral em favor de um ambiente saudável, em especial na cidade de La Oroya, uma das 10 mais contaminadas do mundo, seja mal interpretada, enquanto é reconhecida em todo o país e também no mundo”.
O comunicado prossegue com um questionamento: “Como é possível que num país democrático, onde existe liberdade de expressão e de pensamento, bem como garantias constitucionais, uma pessoa seja ameaçada (…) por ensinar e defender a Doutrina Social da Igreja, que não é mais do que defender a pessoa humana e o bem comum?”.
Esta não é a primeira vez que D. Pedro Barreto é ameaçado. Em declarações a uma rádio peruana, o arcebispo declarou que as intimidações não só não o amedrontam, como o fortalecem. O prelado afirmou igualmente que foi aconselhado a pedir protecção pessoal, mas que não a deseja, pois isso iria contra a sua essência de bispo, que deve estar perto do povo.
Em 2004, o jesuíta D. Pedro abriu uma “mesa de diálogo ambiental”, na tentativa de dar uma resposta colectiva aos graves problemas ecológicos causados pela exploração mineira na região.
Localizado no coração dos Andes peruanos, La Oroya é uma cidade muito poluída. O departamento de Junin, a 185 km de Lima, capital do Peru, é uma das áreas mais venenosas do planeta. Milhares de crianças e adultos estão expostos aos efeitos de metais pesados, como o chumbo. A dispersão de poluentes atmosféricos (como o dióxido de enxofre e óxidos de azoto) provoca “chuvas ácidas”, que flagelam a vegetação da região.
A principal responsável é, alegadamente, a Doe Run Peru. As minas da multinacional circundam o vale do rio Mantaro, cuja nascente está a 4100 metros acima do nível do mar.
Com Rádio Vaticano