Perspectivas para 2008

“O futuro a Deus pertence”. Um texto de perspectiva deve sempre começar com uma afirmação de humildade. Neste tempo tão ambicioso, nada é mais arrogante que o esforço de prever o futuro. Há tantos factos relevantes e miríades de possibilidades que o quer que digamos é sempre insignificante. Que sabemos sobre o que nos espera, senão que Cristo fica mais próximo cada dia? O ano de 2008 começa com nuvens sombrias no horizonte. Além das tragédias em África, a crise financeira do Verão está longe de estar resolvida e ainda pode vir a criar um sério problema mundial. De qualquer modo, já eliminou o ciclo de expansão e optimismo dos últimos anos. Junto com a incerteza do Médio Oriente, que faz subir o preço do petróleo, a insegurança financeira pode criar nos próximos meses uma desaceleração, se não mesmo uma recessão no Ocidente. Estas dificuldades em Portugal são agravadas pelos problemas estruturais que fizeram subir o desemprego durante a recente expansão e criarão sérios problemas sociais a que a Igreja tem de estar atenta. Isso acrescentará aos importantes desafios que os cristãos têm vindo a enfrentar entre nós, ultimamente, desde a imigração ao ressurgimento anticlerical. Em 2008 temos de ser firmes no Senhor. Entre as muitas evoluções importantes, dois factos merecem especial atenção. Enquanto em Portugal se reacenderá a luta política em vista dos sufrágios que se aproximam, nos EUA as eleições serão esmagadoramente dominantes, concentrando a atenção de todo o planeta. Com razão, porque podem ser cruciais. Entretanto esse clima, se aumenta temporariamente a incerteza, pode significar já a redução do factor de instabilidade que a política americana tem ultimamente constituído no mundo. Essas eleições, bem como as questões islâmicas e a situação em França, entre outras, manifestam a todo o mundo a enorme influência da religião na praça pública que, embora sempre presente, alguns analistas pretendiam menosprezar. Mas todos sabemos que a fé, maior força da humanidade, pode ser muito destruidora. Por isso temos de ser firmes no Senhor. Talvez o facto mais relevante que se pode prever para 2008 sejam os Jogos Olímpicos. Trata-se sem dúvida de uma marcante competição desportiva, mas não é isso que lhe traz a importância. A organização desse grande certame trará intensas tensões à China, que se encontra num momento decisivo do seu processo de abertura ao mundo. A invasão de centenas de equipes e técnicos, a presença de exércitos de jornalistas, a enorme exposição mediática serão testes decisivos para a política e a sociedade chinesas. Em particular a falta de liberdade religiosa, problema central nessa grande nação, será especialmente patente e afectada. Constituirá um momento delicado que pode correr muito mal ou, pelo contrário, através do desporto vir a iniciar-se um clima de diálogo e confiança que nunca será fácil mas que vale a pena tentar. Também aí em 2008 temos de ser firmes no Senhor. João César das Neves

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