Luís e Paula
Somos católicos, trabalhávamos na mesma paróquia, éramos amigos e seguimos caminhos diferentes.
Reencontrámo-nos ao fim de alguns anos e rapidamente concluímos que queríamos caminhar juntos.
A realidade era agora diferente: ele era solteiro, ela estava divorciada e com um filho à sua guarda.
Desde logo surgiram as questões e dúvidas comuns a tantos casais na mesma situação, e uma grande necessidade de apoio e conselhos.
Recebemos as mais variadas respostas, que outros conhecerão: “qual é o problema, não se amam?”, “podem dar catequese, não há impedimento”, “podem continuar a colaborar na paróquia, desde que o façam de forma discreta”, “as leis são feitas pelos homens, não por Deus”, “vão comungar a outra igreja”, etc.
Também recebemos conselhos noutro sentido.
Sabíamos apenas que queríamos ser coerentes com a nossa fé e não nos ocorreu questionar o que está canonicamente instituído para estas situações. Mas, e então, o que fazer?
A primeira decisão estava tomada: sim, queremos constituir uma família e transmitir os valores em que acreditamos aos filhos que Deus nos confiar. Casámos civilmente e nasceu mais um filho.
Em paralelo, e graças a um conselho muito oportuno, foi apresentado um pedido de nulidade matrimonial junto do Tribunal Eclesiástico, sabendo, à partida, que estes processos são morosos e que, obviamente, não há certezas quanto à decisão final.
Entretanto, missa ao domingo, filhos na catequese … e estes a perguntarem “porque é que vocês não vão comungar?” E muitas outras perguntas constrangedoras foram aparecendo…
Vivemos momentos de ansiedade à espera de notícias do Tribunal, de dúvidas sobre a continuidade do processo, de alguma revolta por não ser mais rápido e até de vontade de desistir.
Quando nos casámos civilmente assumimos o compromisso de nos entregarmos e de nos acolhermos mutuamente. Mas faltava qualquer coisa… O selo de Deus.
Era o desejo da graça do sacramento do matrimónio que nos perseguia. O matrimónio remetia-nos para uma aliança a três: nós e Deus.
Como era importante para nós vivermos em plena comunhão com a Igreja, havia uma tensão permanente entre o desejo e a realidade: o desejo de participar de uma forma mais plena na Igreja e a realidade que a limitava.
Não nos serviam de nada os conselhos mais liberais nem os mais conservadores.
Foi uma caminhada que fizemos a sós, mesmo que integrados numa comunidade. Em todo o caso, verdade seja dita, nunca nos sentimos à parte. Sinal dos novos tempos, talvez.
E a decisão da nulidade chegou! Foi uma emoção muito grande! Partilhámos com os nossos filhos, a quem explicámos o verdadeiro sentido do matrimónio, salientando que não se tratava de sermos melhores ou piores pessoas. Em qualquer estado somos sempre chamados por Deus a viver o Amor.
Preparámos o matrimónio sem mais demoras. Só o tempo necessário para tratar da parte administrativa.
Acompanhados pelos nossos filhos, familiares e amigos, numa cerimónia simples mas intensa, dissemos sim um ao outro, com a bênção de Deus.
O que é que mudou? A confirmação da bênção de Deus e a plena comunhão com a Igreja.
Luís e Paula