Perfil dos Dirigentes Políticos

Por definição, a Política visa a promoção do bem comum. Nesse sentido, os políticos desempenham um papel determinante na sociedade na medida em que se colocam efetivamente ao serviço do bem-estar dos indivíduos e dos grupos enquanto coletivo social. Quando tal acontece os políticos gozam de autoridade pública. Quando não se verifica esta autoridade, pode-se depreender que não estão a exercer devidamente a sua função social e que, consequentemente, não possuem os traços atitudinais e as competências essenciais para essa função.

Tendo em consideração o contexto sociopolítico atual, apresento de seguida três competências transversais essenciais de quem assume a função de liderança ao nível político. Dessas competências emerge um conjunto de características personológicas e de atitudes comportamentais que constituem indicadores seguros para a formação dos políticos e para a avaliação do grau de excelência do seu desempenho profissional.

Cooperação: a capacidade de trabalhar em equipa

Antes de mais, exige-se de um político capacidade de agir em conjunto com vista à realização de um propósito comum. A cooperação refere-se ao modo pelo qual os indivíduos conjugam as suas forças e os seus saberes para atingirem objetivos comuns, envolvendo-se cognitiva, afetiva e comportamentalmente com o grupo em questão.

Num tempo em que se fala tanto em colaboração, precisa-se de políticos que deem exemplo de trabalho em equipa. A ação de colaborar evidencia uma intenção de “acrescentar valor”, criando algo novo ou diferente através de um processo colaborativo deliberado e estruturado, o qual se distingue de uma simples troca de informações ou da mera execução de tarefas.

Quando o partidarismo, o individualismo e a competição desmesurada se sobrepõem à capacidade de trabalhar em equipa, impõe-se apontar aos dirigentes políticos a premência de desenvolverem a capacidade da cooperação. Só assim quem é pago para estar ao serviço do bem comum se focalizará nas tarefas mais urgentes para a resolução consistente das problemáticas emergentes. O atual clima de insatisfação individual e coletiva, os índices de desemprego e de pobreza, a crise financeira e económica exigem destes dirigentes a capacidade de construírem interações inteligentes, tanto ao nível intrapartidário como interpartidário.

Liderança: a capacidade de influenciar e orientar

Mesmo os mais distraídos em relação à evolução social, apercebem-se da revolução recente no tipo de liderança que vigora nas mais diversas organizações, desde as empresas às escolas, desde a família à política. Os líderes de sucesso de ontem podem não ser os líderes adequados para hoje. Um líder competente no mundo contemporâneo dá atenção às pessoas e aos resultados, aponta o caminho e percorre o itinerário com o grupo, alia a capacidade de visão à capacidade de ação, comunica tanto com uma linguagem técnica como através de uma linguagem mais poética, ao estilo de um contador de histórias.

Perante estas transformações na “arte” de liderar, impõe-se a pergunta: será que os nossos dirigentes políticos são efetivamente bons líderes? Uma coisa é certa: o sucesso de um grupo, de uma sociedade, de uma empresa, de uma escola depende muito dos seus líderes. A situação atual aponta para graves problemas na formação dos nossos líderes em geral.

Precisa-se de dirigentes capazes de garantir que a sociedade está focalizada na definição, execução e a avaliação dos objetivos prioritários do mundo hodierno. Para isso, urge ter dirigentes que apontem para as melhores estratégias, para os métodos e recursos mais eficientes. Os bons líderes fazem-no de um modo exímio.

Empreendedorismo: a capacidade de ter iniciativa

Qualquer político na atualidade precisa de assumir alguns dos traços dos empreendedores. Estes são excelentes na arte de pensar criativamente, de resolver efetivamente problemas, de analisar objetivamente uma ideia sob a forma de projeto, de comunicar eficazmente as suas ideias, de trabalhar em grupo, de liderar pessoas e equipas, de avaliar a viabilidade dos seus projetos.

Se se pretende que a utopia da organização das sociedades em democracias positivas e construtivas seja uma realidade, precisamos de políticos com as características supracitadas. Onde a maioria não vê qualquer hipótese de trabalho, de solução, de saída, aqueles deixam-se questionar, perguntam, analisam e resolvem efetivamente.

Faltam sinais que apontem para o facto do empreendedorismo, da liderança e da cooperação fazerem parte do modo de ser dos nossos políticos. Daí também a sua falta de autoridade para dirigirem construtivamente a sociedade na sua globalidade.

Como afirma Albert Einstein: “No meio da dificuldade vive a oportunidade.” Esperamos que os desafios atuais sejam autênticos laboratórios de um novo perfil de dirigente político e que as gerações vindouras de políticos beneficiem da aprendizagem adquirida neste período da nossa história.

Jacinto Jardim
Professor Instituto Piaget

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Agência ECCLESIA

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