Peniche invocou Senhora da Boa Viagem

Espiritualidade mantém-se viva, mas deixou de congregar todos os pescadores

“Por natureza, o homem do mar é um homem de fé”, explica o mestre João Pacheco Leitão. “Na imensidão do mar, estamos mais perto de Nosso Senhor”.

Até ao séc. XVII, Peniche foi uma ilha. Francisco Salvador recorda que só desde então é que uma estreita faixa de terra a ligou ao continente. A povoação tornou-se importante quando o porto de Atouguia da Baleia começou a assorear, o que motivou a deslocação dos pescadores.

“Se não fosse a dimensão religiosa, estes festejos não assumiriam a dimensão que hoje têm”, diz o presidente da Câmara Municipal, António José Correia. A veneração à Senhora da Boa Viagem manifesta-se logo à entrada da cidade, como sinal que manifesta a história e a identidade da cidade.

De ontem para hoje

Só no século XX é que a festa passou para Agosto, juntando-se à do padroeiro dos navegantes, S. Pedro Gonçalves Telmo. Até então, a celebração ocorria em Fevereiro, após o mau tempo do Inverno. João Leitão recorda os anos em que nenhum dos 71 barcos ia para o mar sem uma «Missa de Companha», com todos os familiares. “Hoje, há um ou dois que fazem isso”.

O mestre fala de outro fenómeno, que comprova a desafectação religiosa: “Quando as pessoas começaram a ter um nível de vida melhorzinho, começou-se a notar um bocadinho mais de falta de amor a Nosso Senhor”. E acrescenta: “Quando vinha para o mar, passava sempre pela Igreja de Nossa Senhora da Ajuda. Sempre. Era ali que eu pedia, nos bons e maus momentos que Deus me desse, força para os encarar e aceitar”.

Pescador de homens

“É conhecida a fé dos homens ao mar”. Durante a missa mais importante das Festas da Senhora da Boa Viagem, o pároco de Peniche, Pe. Pedro Silva, evocou deste modo o chamamento de alguns dos Apóstolos. A ligação da população às actividades marítimas foi um dos motivos que originou a escolha de vida do Pe. Carlos, missionário scalabriniano nascido em Peniche. 

O sacerdote evoca o carácter acolhedor do povo português, reconhecido pelos confrades da comunidade italiana, onde reside.

“Nesta altura, a Europa parece que está a querer mais fechar portas, do que propriamente abri-las.” O sacerdote, ligado ao trabalho com os migrantes, lembra que uma das grandes riquezas do continente sempre foi a “mobilidade humana”. “Por isso é bom que nós, portugueses, não percamos esta nossa grande virtude de ser um povo acolhedor.”

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