Pelos caminhos de África e da América Latina

Ir. Jola Plominska, Uruguai

O motor do avião começa a acelerar, os cintos de segurança apertados e partimos! O olhar fixa-se na janela para olhar a terra e depois a imensidão do céu. A cabeça também voa. Os pensamentos percorrem todas as etapas de preparação para a experiência missionária e começam a projetar-se no futuro que, dentro de poucas horas, se tornará a nossa vida quotidiana. Vem-me à mente tantos rostos jovens e tantos corações prontos a amar, quando releio as palavras do Papa Francisco: “Não podemos ficar fechados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente à espera do Evangelho. Não se trata apenas de abrir a porta para acolher, mas de sair da porta para procurar e encontrar”. Penso em jovens, não diferentes dos outros, que decidiram partir. Recordo-me de uma viagem de 10 horas na Amazónia, no Brasil. O que aí vivemos durante uma missa está expresso nas palavras do nosso diário: “Encontro olhares de pessoas concentradas, pessoas que esperavam há seis meses para ir à missa. Olhares entusiasmados, como os dos pais das crianças que vão ser batizadas nesta noite. Sejamos realistas: são quase 10h da noite, chegámos do rio com cinco horas de atraso, os insetos atormentam toda a gente, as baratas correm pelo chão e os olhos destes pais brilham. E eu pergunto-me porquê. Fazer uma experiência missionária é experimentar a realidade do ponto de vista daqueles que encontramos, e, portanto, olhar a realidade, não com os nossos olhos de ocidentais, mas com os olhos deles, esta noite torna-se especial também para nós.”

Com muitos jovens, caminhámos e, ao longo das estradas de África e do Brasil, ouvimos pessoas dizerem que Deus tinha voltado a viver entre elas. Mas estas experiências não marcaram apenas as pessoas que encontrámos pelo caminho. Marcaram, talvez antes de mais, a nós próprios. Por vezes, com uma boa palmada na cabeça que nos fez perceber que a nossa maneira de ver a realidade não é a única e necessariamente a melhor. Outras vezes, foram os nossos hábitos que nos deram uma boa bofetada na cara. Parece tão normal abrir a torneira e lavar as mãos com água limpa. Em África não era assim tão normal, também porque não víamos água transparente. Lavávamo-nos com água recolhida de poças de água, por isso era escura e arenosa. Aí aprendemos a apreciar o que temos e a compreender que podemos viver muito bem mesmo sem o que nos parece essencial, mas porque o essencial é outra coisa completamente diferente. E percebe-se que o que conta é o que se é e não o que se tem. E depois de regressar de uma tal experiência, tem dificuldade em voltar a entrar no seu mundo. Há quem lhe chame “mal de África” ou “saudade”, mas na realidade é muitas vezes uma necessidade de se sentir “humano”, amado e aceite.

O Senhor continua a colocar novos desafios no meu caminho. Aqui em Montevideu, no Uruguai, no bairro onde vivo, já não encontro crianças como em África, que me pedem na rua para brincar com elas. Mas encontro um vizinho que me pergunta se temos um santo naquele quartinho que se vê da rua com uma luz vermelha, e quando respondo que é a nossa capela e que Jesus está lá, ele pergunta-me se um dia pode vir rezar a esse santo. Nesse vizinho encontro a sede de Deus, por vezes inconsciente, que está no coração de cada homem e mulher em todos os cantos da terra.

Em Parceiria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24)

 

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