D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, defende que o povo do Iraque não deve sofrer ainda mais e que as verdadeiras condições da solução apontam sempre para as medidas humanitárias e as aberturas diplomáticas. Em declarações à Agência ECCLESIA D. Januário reafirmou as posições tomadas na sua crónica semanal no site do Ordinariato Castrense (http://castren-se.ecclesia.pt) e avaliou os elementos apresentados, dia 6 de Fevereiro, por Collin Powell na ONU. “Os elementos que o Secretário de Estado dos EUA apresenta merecem o maior respeito e, até o medo relativo em algumas situações; no entanto, por aquilo que ouço em vários países, a acção dos inspectores deveria continuar e deveria haver provas mais evidentes da presença de armas de destruição maciça”, adverte. A actuação da Igreja Católica, neste caso, é considerada exemplar por D. Januário, que cita alguns exemplos: “O discurso do Papa ao corpo diplomático no Vaticano, a carta do presidente da Conferência Episcopal dos EUA a George W. Bush – onde dizia que não havia razões para uma guerra -, a posição do Episcopado francês e de tantos outros, claramente contra um ataque ao Iraque e declarando ilegítima a guerra preventiva”. O Bispo das Forças Armadas portuguesas defende que uma declaração de guerra, a ser tomada, deverá ser uma posição “multilateral”, no quadro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Sabemos que os EUA são capazes de resistir a esta imposição legal e criar outros caminhos, Portugal já exprimiu a sua adesão a esta hipótese, algo que é discutível e mesmo lamentável, ainda que se compreenda a nossa dependência dos Estados Unidos por causa da crise económica”, defendeu D. Januário. A guerra justa é, no quadro do ensinamento moral da Igreja Católica, uma solução de última instância e apenas para casos de legítima defesa, o que não se enquadra no conceito de guerra preventiva. “Os meus critérios são os do Evangelho, que são os da cultura da vida”, conclui. Na sua crónica “O Compasso do tempo” D. Januário contestava, ainda, o continuado embargo internacional ao povo iraquiano: «Que não fiquem dúvidas: Sadam Hussein é, pelo menos, um ditador. Que não haja perplexidades: a “arte de pensar” não é uma arma de anti-americanismo … Talvez que a fonte principal do anti-americanismo seja mesmo o americanismo, tal como o vemos e lemos, cultivado e proposto”. “Nessa função crítica de algumas posições americanas tem-me chamado a atenção o papel de Denis Halliday, antigo coordenador do Secretariado Geral de Ajuda Humanitária da ONU para o Iraque, entre Agosto de 1997 e Outubro de 1998, altura em que se demitiu como protesto contra o uso continuado das sanções do embargo. No seu discurso de demissão, afirmou: “Estamos num processo de destruição de uma sociedade inteira. É tão simples e aterrador como isso. É ilegal e imoral.”»