Pedrógão Grande: Jovens em missão «semeiam alegria» junto de comunidade ainda a recuperar do drama dos incêndios

Projeto coordenado pelas Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena

Pedrógão Grande, 07 set 2018 (Ecclesia) – 20 jovens de vários pontos do país estiveram em missão na vila de Pedrógão Grande, no concelho de Leiria, uma atividade com uma população duramente atingida pelos incêndios de 2017, que fica também como um marco na vida destes voluntários.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Raquel Nicolau, que veio do Porto, destaca o encontro que teve com um casal que perdeu a filha pequena para as chamas, e os frutos que daí surgiram para aquela família.

“O senhor não falava, simplesmente não dizia uma única palavra. E eu pensei, porque não ir até ele e ver o que é que dali poderá vir. Começou a contar a história dele, começou a falar comigo, um passo completamente gigante que ainda agora me arrepia”, conta a jovem, para quem são estes pequenos ‘milagres’ que fazem qualquer missão “valer a pena”.

A ida para Pedrógão Grande aconteceu no âmbito do projeto ‘Dominis Missio’, da responsabilidade do setor de Pastoral Juvenil das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena.

Uma iniciativa que pretende desafiar os mais novos ligados a esta congregação a darem um pouco do seu tempo, das suas férias, para o serviço ao próximo, nos mais variados contextos.

“Estar, ser, são as palavras completamente de ordem deste Dominis Missio, é isto que nos move, tal como a nossa Madre Teresa, a fundadora, nos diz, fazer o bem sempre. E é isto que nós estamos aqui para fazer”, salienta Raquel Nicolau.

Os dias desta missão a Pedrógão Grande, entre 28 de agosto e 5 de setembro, foram divididos entre visitas a algumas famílias mais afetadas pelos fogos de 2017, atividades com crianças e idosos  inseridos em valências da Santa Casa da Misericórdia, e vários momentos de oração e de festa com as comunidades locais.

A irmã Flávia Mendonça, que coordenou o projeto, realça a esperança e a alegria que estes jovens trouxeram às pessoas desta terra, mas também tudo o que os mais novos receberam com esta experiência, em termos de crescimento pessoal e de desenvolvimento de capacidades.

Enquanto no primeiro dia, até mesmo aos jovens, ao barulho, à alegria, se notava muito nos lares, nos centros de dia, que algumas pessoas quase que repeliam, o que é normal, pela idade, pela tristeza, nota-se que se foram deixando contagiar”, observa a religiosa, destacando que “esta relação intergeracional é muito bonita e a gente percebe também a ação do Espirito Santo, miúdos que são tímidos e que com os idosos se conseguem libertar”.

Graças a estas e a outras iniciativas solidárias que vão surgindo, um pouco de todo o país, a vila de Pedrógão Grande vai a pouco e pouco deixando para trás a memória dolorosa e pesada dos entes queridos que foram perdidos para as chamas, bem como dos bens que foram destruídos.

“Por onde passei nunca referi os incêndios, porque acho que eles já tiveram uma grande mágoa, sei que alguns ainda estão a sofrer, só que eu por vontade própria preferi não puxar esse assunto, preferi ir às coisas de infância, que eram aquelas coisas que os alegravam, de modo ao sairmos daqui eles ficarem com memória de coisas boas”, realça Pedro Silva.

Para este jovem, natural de Amarante, formado em engenharia e gestão industrial, “este foi um desafio diferente”, já depois de ter tido “uma experiência de voluntariado em Fátima com crianças com mobilidade reduzida”.

Como objetivo estabeleceu sobretudo “semear” no meio desta comunidade de Pedrógão Grande sementes de esperança, de alegria, que possam dar frutos mais tarde.

“Um pequeno sorriso, às vezes é o que basta. Uma pessoa que tentámos falar com ela várias vezes e ela não quer falar, ou recusa-se a falar, e de um momento para o outro mostrar um sorriso, já é muito gratificante”, sustenta o voluntário.

Outra participante desta atividade, Sandra Guimarães, vimaranense de gema como o nome indica, descobriu a sua vocação nestes campos de férias missionárias Dominis Missio.

“Eu antes de vir para cá queria ser veterinária e eu descobri aqui que a minha vocação falar com idosos, animá-los. E ainda por cima recebi hoje a minha entrada na Universidade, para Serviço Social, e é algo que me inspira”, confidencia a jovem.

Do lado da comunidade, fica sobretudo uma mensagem de agradecimento pelo trabalho que este grupo de jovens, em conjunto com as Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, realizaram junto das gentes de Pedrógão Grande.

Em especial numa altura em que são várias as pessoas e famílias que ainda necessitam de apoio e de força, pelas situações difíceis que viveram.

“Naqueles momentos mais imediatos a seguir ao incêndio recebemos aqui as pessoas que ficaram desalojadas e outras que foram evacuadas das zonas onde deflagraram os incêndios. Agora no pós, nestes meses que se seguiram, neste ano, algumas ficaram em apoio domiciliário”, explica Catarina Tavares, da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande.

Como balanço, a irmã Flávia Mendonça realça uma atividade missionária que ajudou os jovens voluntários a crescer, mas que mostrou de modo especial a força das pessoas de Pedrógão Grande, que não se deixaram ficar na adversidade.

“Uma experiência muito bonita, muito rica, e sobretudo perceber não tanto aqui, na vila de Pedrógão, mas nas aldeias, onde as pessoas sofreram mais, onde foram zonas mais devastadas, a coragem deste povo, e apesar de tudo que há gente que foi tão atingida mas que lá no fundo a capacidade que têm ainda de nos acolher, de dar um sorriso, mesmo quando é um sorriso triste, penso que isso é um testemunho de fé para todos nós”, conclui a religiosa.

Esta missão de uma semana a Pedrógão Grande, organizada pelas Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena com mais 20 jovens voluntários de todo o país, é o tema em destaque na edição deste domingo do Programa ‘70×7’, que poderá ser acompanhado a partir das 13h20 na RTP2.

JCP

Fotos: Pastoral Juvenil das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena

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Agência ECCLESIA

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