A dúvida é um lugar onde Pedro Abrunhosa gosta de estar. Agnóstico confesso, reconhece que a tradição cristã marca a sua vida, seja nas memórias em Moimenta da Beira quando ali regressava para em cada Páscoa participar nas celebrações, ou através da leitura da Bíblia – livro que o pai, agnóstico, cedo lhe mostrou.
O amor de 70 anos entre um pai agnóstico e uma mãe profundamente católica mostrou ao músico português que o ‘Cântico dos Cânticos’ é real; a tradução de Frederico Lourenço reaproximou-o dos textos bíblicos; o encontro com o Papa Francisco trouxe-lhe Deus; a procura sobre o significado do silêncio deu-lhe conversas e consolo, mas o silêncio de Deus continua a ser o axioma principal na vida de um buscador, que não se sacia com a primeira pepita de ouro e que encontra na arte a única forma de se pacificar.
O seu caminho de agnóstico tem sido povoado por crentes, muitos deles sacerdotes, com quem partilha perguntas e silêncio. E tem sido iluminado pelo Papa Francisco, cujas palavras recorda do encontro em junho de 2023, e da comunhão em torno do bem-comum, da paz, do diálogo ecuménico e da aproximação que tem sido feita entre a Igreja e os homens.