Pedofilia: Papa reforça discurso da responsabilização contra o da vitimização

A intervenção de Bento XVI sobre a pedofilia na Igreja a bordo do avião que o trouxe até Portugal reforçou a sua política de responsabilização e mudança na Igreja, evitando um discurso de vitimização.

Ao afirmar que a “maior perseguição à Igreja” não vem de “inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”, o Papa foi mais longe do que tinha ido até agora ao assumir que, em primeiro lugar, o problema é do foro interno.

Diversos casos de pedofilia a envolver membros do clero católico têm sido divulgados em vários países, tendo já levado o Papa a aceitar demissões de Bispos da Irlanda, Bélgica, Alemanha ou Noruega.

Responsáveis da hierarquia católica têm falado em campanha organizada contra a Igreja, apontando o dedo sobretudo aos media, mas também à Maçonaria ou ao “lobbie gay”.

Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, está é uma leitura que “nunca” foi feita por Bento XVI, o qual prefere assumir um discurso que assume a existência de um “mal” e convida a elimina-lo.

“Para mim é prioritária esta leitura do problema, espiritual, profunda, em chave de pecado-conversão-penitência”, disse o porta-voz, que lembrou também a preocupação na “participação na dor das vítimas” e a necessidade de “justiça”.

Admitindo que o discurso no voo papal terá sido o mais “esclarecedor” de Bento XVI nesta matéria, Federico Lombardi nega, contudo, que estejamos perante uma “mudança de rumo”.

Além de uma carta à Igreja Católica na Irlanda, Bento XVI tem repetido em discursos, homilias e mesmo encontros com jornalistas (viagens a Malta e Portugal) um conjunto de palavras-chave como “penitência”, “perdão”, “conversão” e “justiça” para propor uma solução definitiva para estes casos de pedofilia.

Para reforçar uma política de “transparência” nesta matéria, o Vaticano publicou na sua página oficial uma espécie de “guia” com os procedimentos a serem seguidos em casos de denúncia.

“Deve sempre seguir-se o direito civil, em matéria de informação dos delitos às autoridades competentes”, refere o documento.

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