Paz: Realidade continua «muito difícil», mas «Afeganistão parece longe»

Refugiado afegão Dawood Yousefi e Daniela Moretti, da Comunidade de Sant’Egídio em Roma, estão a Portugal para falar sobre a «importância da paz»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 25 mar 2022 (Ecclesia) – Dawood Yousefi, natural de Daykundi, uma província no Afeganistão, lamentou hoje que os media tenham esquecido a situação que o povo afegão ainda enfrenta e afirma que a vida é hoje “muito difícil” naquele país.

“As primeiras vítimas são as mulheres, que não podem ir ao trabalho, à escola e não podem fazer o que fizeram nos últimos 20 anos. As minorias são perseguidas e a pobreza afeta milhares de pessoas que tentam sair do Afeganistão. Tenho que dizer que não há atenção agora sobre a atual situação no Afeganistão”, disse à Agência ECCLESIA.

Dawood Yousefi fugiu do Afeganistão ainda jovem e está atualmente em Roma, onde trabalha com crianças com deficiência e é voluntário da Comunidade de Sant’Egídio, onde ajuda na Escola de língua e cultura italiana, dando aulas de italiano a cidadãos que procuram a sua integração.

O refugiado afegão, hoje cidadão italiano, participa numa conferência «A importância da paz», promovida pela Comunidade de Sant’Egídio que conta com a participação de Daniela Moretti, da Comunidade em Roma.

Dawood Yousefi reconhece que a situação na Ucrânia, pela “proximidade e por ser um país europeu”, domina a opinião pública e faz o Afeganistão “parecer longe”, mas lamenta que a tarefa de evacuação das pessoas não tenha sido completa.

“A comunidade internacional não acabou a sua tarefa na evacuação das pessoas afegãs. No começo houve uma reação geral na opinião pública sobre o que estava a acontecer. Agora não. Os media estão todos voltados para a terrível situação na Ucrânia”, reconhece.

A falta de notícias não apaga a realidade que persiste: “Parece que o mundo se acostumou a que o Afeganistão fique nas mãos dos Talibãs, há uma resignação sobre o destino do país. Mas a situação é difícil e não falar não ajuda”.

O jovem de 35 anos fala numa “estratégia dos talibãs” que quer “normalizar o seu governo” de forma a serem reconhecidos internacionalmente, mas, adverte, “os talibãs continuam a ser um grupo terrorista” a tentar comportar-se “de uma forma «simpática», para ter reconhecimento da comunidade internacional”.

“Estão agora a fazer coisas que fazem mal ao povo afegão e terem o reconhecimento internacional pode ser ainda pior”, adverte.

Dawood Yousefi/DR

Dawood Yousefi nasceu no país em guerra e para não matar ou ser morto, fugiu num percurso que demorou onze meses até chegar a Roma, indica um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

“A paz não quer dizer apenas, ausência da guerra, mas significa ter direitos, estudar, trabalhar, ter respeito”, indica.

O que este jovem acredita que se pode ainda fazer é “contar tudo”, sem calar as histórias sobre o que está a acontecer no Afeganistão, sobretudo “contra as mulheres e contra as minorias”.

“Vi e aprendi, graças à Comunidade de Sant’Egídio, que trabalhar pela paz não tem de ser uma obrigação, mas uma transmissão que vem do coração. É um processo que precisa de paciência, um passo após o outro, mas participar, escutar, ajudar, tomar a mão de quem se encontra em dificuldade, olhar à nossa volta, são atitudes que podem construir a paz”, traduz.

Dawood Yousefi acredita que todos os exemplos podem ajudar e por isso partilha a sua “pequena história”, como um passo de paz.

Daniela Moretti concretiza que a paz constrói-se com o “empenho de cada um”.

À Comunidade de Sant’Egídio têm chegado pedidos de ajuda, também vindos de cidadãos ucranianos, que procuram aprender a língua italiana como forma de integração no país, “mesmo que de forma temporária”.

“A todos abrimos a porta. A primeira chave de integração é a língua, e os refugiados e emigrantes procuram aprender a língua para se integrar. Quem pede ajuda tem de ser acolhido porque tem o mesmo sonho”, sublinha à Agência ECCLESIA.

E Daniela Moretti partilha um sonho: “Espero que a história e o acolhimento aos ucranianos nos ajude a olhar os refugiados todos da mesma forma. Que a solidariedade com os ucranianos possa acontecer com todos. É uma esperança que temos”.

LS

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Agência ECCLESIA

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