Paz: Aumento do défice, aborto, fundamentalismo ou pobreza também são guerras, diz bispo de Coimbra

Jovens esbarram com «portas fechadas e barreiras intransponíveis», afirmou D. Virgílio Antunes

Coimbra, 02 jan 2012 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra afirmou este domingo, Dia Mundial da Paz, que o crescimento do défice do Estado também é uma guerra que provoca vítimas, a par do aborto, fundamentalismo, desregulamento económico, pobreza e falta de trabalho.

Na homilia da missa celebrada na sé conimbricense, enviada à Agência ECCLESIA, D. Virgílio Antunes referiu-se às “guerras que são a pobreza, o desemprego, o desnorteamento dos mercados financeiros, todas as formas de especulação, a supremacia dos países ricos e o crescendo sem fim da dívida pública, que deixa pessoas e nações à mercê da avidez de alguns”.

O presidente da Comissão Episcopal que coordena as vocações da Igreja Católica em Portugal sustentou que “a guerra surda contra a vida humana nascida ou por nascer, resultado do mais feroz egoísmo, continua a ser a que deixa atrás de si maior rasto de violência e de morte”.

O responsável aludiu também às “inúmeras situações de guerra armada, que fere e mata pessoas inocentes e indefesas, nas mais variadas partes do mundo, sobretudo no Médio Oriente”, e lamentou as “graves divisões causadas por fundamentalismos religiosos, que fizeram renascer ações terroristas, perpetradas, na maior parte dos casos, contra os cristãos minoritários em muitos países da Ásia”.

D. Virgílio Nascimento lembrou ainda a “guerra psicológica, que leva a constrangimentos e violências por parte dos mais fortes sobre os mais fracos”, forma de opressão “cuja arma é o sofrimento que se inflige aos outros por meio de palavras, gestos e atitudes de vida, dentro de cada casa, nos locais de trabalho ou no mundo das relações pessoais”.

A homilia recordou a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz, dedicada à educação da juventude, ao acentuar que os jovens são os “mais vulneráveis” àquelas realidades, “que os atingem numa fase crucial da sua vida”.

“Os jovens, que esperavam um conjunto de oportunidades e condições para a construção do seu futuro”, deparam-se com “um conjunto de portas fechadas e barreiras intransponíveis”, que os podem tornar “protagonistas de um futuro sem esperança e agentes de uma cultura sem objetivos justos e válidos”, afirmou o bispo de Coimbra.

Diante de “um conjunto de más experiências de vida e a um mau testemunho da sociedade em que nasceram” os mais novos “correm o risco de não acreditar no ser humano, na sua bondade natural e nas suas capacidades de construir o futuro pela via da justiça e da paz”, acrescentou.

Referindo-se ao tema da mensagem papal, “Educar os jovens para a justiça e a paz”, D. Virgílio Nascimento salientou que a educação “tornou-se um conjunto de meios para ultrapassar os outros, numa competição louca pela conquista dos lugares de trabalho, pela melhor remuneração e pelas maiores seguranças materiais da vida”.

A construção da justiça e da paz, apontou o prelado, passa pelo “olhar de Deus”, que causa “a mudança radical” da “mentalidade” e das “formas de agir”, provocando “a conversão do coração.

“Foi deste olhar de Deus que o mundo se foi afastando; fomo-nos escondendo de Deus neste jardim em que nos colocou, para que o construíssemos e o fizéssemos prosperar de todos os bens e para todos os homens”, assinalou.

RJM

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