Paz: «A voz da Igreja é hoje mais necessária do que nunca», perante «estado do mundo», afirma Paulo Portas

Conversa dedicada ao tema «Há esperança para a paz?”, no Colégio das Doroteias, em Lisboa, uniu o antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e o patriarca de Lisboa

Foto: Filipe Amorim/Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 12 nov 2025 (Ecclesia) – O antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas afirmou, na noite desta terça-feira, no Colégio das Doroteias, em Lisboa, que “a Igreja deve ser uma voz necessária num mundo inquieto”.

“A paz, para a Igreja, não é apenas ausência de guerra – é um dever e um direito universais. O Papa Francisco estava profundamente preocupado com o estado do mundo, e é por isso que a voz da Igreja é hoje mais necessária do que nunca”, afirmou o antigo líder do CDS-PP, citado pelo site do Patriarcado de Lisboa.

“Há esperança para a paz?” foi o mote da conversa entre Paulo Portas e D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, a terceira do ciclo ‘Hope Talks’ (‘A esperança fala’), uma iniciativa promovida pela Paróquia do Alto do Lumiar, integrada no caminho do Jubileu 2025, convocado pelo Papa Francisco.

O antigo vice-primeiro ministro português lembrou que a paz não se faz sozinha” e que o diálogo inter-religioso é um caminho essencial, como demonstrou o Concílio Vaticano II.

“Não pode convocar Deus quem não sabe reconhecer o seu semelhante como irmão. As Igrejas são irmãs, e esse diálogo é hoje um dos poucos espaços onde a paz ainda pode nascer”, referiu.

O orador destacou o papel o papel histórico do Vaticano como mediador internacional, indicando que tem “uma diplomacia que todos os bons diplomatas admiram”.

“É preciso espaço, tempo e paciência para que a diplomacia funcione. É um trabalho que não é feito em ‘reality shows’, mas através de compromisso e desinteresse direto”, salientou.

Paulo Portas defendeu que “um processo de paz não é um tweet de momento”, “é preciso tempo, oração, diálogo e pacificação”.

Na conversa moderada por Pedro Benevides, jornalista da TVI, que reuniu dezenas de participantes, D. Rui Valério reconheceu que a resposta à pergunta sobre como manter a esperança num mundo marcado por conflitos “não é simples”.

A guerra é a afirmação da força, da pujança, e concentra em si tudo aquilo que as diversas sociedades vão produzindo em termos de poder e de tecnologia”, afirmou.

O patriarca disse não acreditar que “o ser humano esteja dramaticamente destinado à guerra”, apontando como justificação a ineficácia nas relações humanas que “não foi capaz de conduzir plenamente ao encontro, à colaboração e à cooperação”.

Questionado sobre se a voz da Igreja ainda é escutada quando fala de paz, D. Rui Valério lembrou o encontro do Papa Francisco com o imã de Al-Azhar e o ‘Documento sobre a Fraternidade Humana’, assinado em Abu Dhabi.

“Faz sentido que o plano de paz surja da dimensão religiosa, porque é aquela que abraça todos os seres humanos e o ser humano no seu todo. (…) Enquanto a política, a economia ou a ciência se concentram em aspetos específicos, a religião abre-se à dimensão ética, antropológica, social e relacional”, realçou.

De acordo com o patriarca de Lisboa, “a paz é a bênção das bênçãos, porque é sobre ela que toda a sociedade e toda a vida se constroem”.

“É um sentimento universal que abraça a humanidade inteira. Mas é também um compromisso diário e um empenho concreto, construído com gestos simples e construtivos, sempre com a dignidade da pessoa em primeiro lugar”, assinalou.

D. Rui Valério lembrou que “a paz não é apenas ausência de guerra”, sublinhando que esta deve ser “integral” que englobe o “combate à fome, pobreza, doença e injustiça”.

Foto: Filipe Amorim/Patriarcado de Lisboa

A conversa incidiu também sobre os conflitos, tendo Paulo Portas ressaltado que “um país invadido tem direito a organizar a sua defesa, inclusive com o uso da força, desde que se cumpram quatro condições: esgotamento de outros meios, proporcionalidade, razoabilidade de êxito e respeito pelos limites éticos”.

Por sua vez, o patriarca reforçou a visão da Igreja: “A agressão externa obriga à defesa da vida e dos valores que sustentam uma sociedade. A legítima defesa não é um ato de guerra por si, mas um instrumento para proteger bens fundamentais e a dignidade humana”.

A sessão contou com a participação do pároco do Alto do Lumiar, padre António Ribeiro de Matos, que no início do encontro evidenciou que “a paz não tem a ver apenas com a fé, mas com a humanidade”.

“O nosso objetivo é ativar no coração de cada um de nós o desejo e a esperança por um mundo mais pacífico”, disse.

O Patriarcado de Lisboa informa que, após esta conversa, seguem-se mais dois encontros, sempre às 21h15: no dia 2 de dezembro, no Instituto Superior de Educação e Ciências, sobre ‘Há esperança na doença?’, e no dia 16 de dezembro, na Junta de Freguesia do Lumiar, sobre ‘Há esperança na maternidade?’.

LJ

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