Paulo VI: «Um homem sensível aos assuntos políticos» destaca Alfredo Bruto da Costa

Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz evoca legado do futuro beato

Lisboa, 18 out 2014 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) destacou que Paulo VI, o primeiro Papa que visitou Fátima num período de animosidade do Governo português, era “homem de uma invulgar cultura e de uma invulgar inteligência”.

“O Papa veio a Fátima o Governo esteve lá, o próprio Salazar. Os cumprimentos foram de uma solenidade e simpatia que ninguém diria que pouco tempo antes tinha havido aquele episódio”, revela o professor Bruto da Costa sobre a visita de Paulo VI a Portugal que foi precedida pela participação no Congresso Eucarístico de Bombaim.

A visita à Índia, em 1964, foi um momento de tensão entre o Governo português e o Vaticano, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Franco Nogueira, a considerar esta viagem como um ‘agravo gratuito, inútil e injusto a Portugal’ por causa da anexação de Goa pela União Indiana.

Para o presidente da CNJP, Paulo VI era “um homem de uma invulgar cultura e de uma invulgar inteligência”, por isso, “não terá sido nada difícil” suceder em 1963 ao Papa João XXIII à frente da Igreja Católica e do Concílio Vaticano II que estava a decorrer.

“Teve de rematar todo o dinamismo que foi suscitado pelo concílio, quer internamente quer à escala mundial, e fê-lo com uma sabedoria e competência extremamente grande”, desenvolve.

O Papa que instituiu o Dia Mundial da Paz, criou os Sínodos dos Bispos e vai ser beatificado este domingo, na Eucaristia conclusiva da terceira assembleia extraordinária sinodal, é recordado também como um “um homem extremamente sensível aos assuntos políticos”.

Segundo o professor Bruto da Costa “foi um homem de intervenção” e destaca que durante o seu pontificado Paulo VI falou na Assembleia Geral das Nações Unidas, com “um belíssimo discurso”, e também recebeu os representantes dos “chamados ‘movimentos terroristas’, na altura, que eram pela independência das colónias africanas portuguesas”.

“Sabe-se que ele era muito amigo de Aldo Moro [democrata cristão, eleito cinco vezes primeiro-ministro da Itália]. Paulo VI era um homem daquela geração e possivelmente daquele grupo de intelectuais italianos que eram homens verdadeiramente empenhados na vida política e ao nível que deixou marcas muito importantes”, acrescenta.

O presidente da CNJP destaca ainda a Encíclica ‘Populorum Progressio’, de 26 de março 1967, onde o Papa escreve sobre desenvolvimento dos povos e da luta contra a pobreza com “algumas expressões muito fortes como o desenvolvimento é um novo nome da paz”.

Naquela altura, explica o entrevistado, era “muito claro” que paz mundial estava “muito dependente do desenvolvimento dos povos” e de relações de “justiça e solidariedade entre os povos do chamado primeiro e terceiro mundo”.

Para Bruto da Costa, neste documento Paulo VI escreve uma das “melhores definições de desenvolvimento” que encontrou até hoje: “É uma perspetiva ética, mas é tão abrangente e de uma força humana tão grande das melhores definições”.

Da “Populorum Progressio” e da sua atualidade, o responsável assinala ainda que esta tem “conceitos” que estavam adquiridos a nível de relações individuais como “a noção da justiça” que é aplicada às “transações internacionais, entre empresas e entre países”.

Estas e outras declarações, memórias e análises sobre o pontificado do Papa Paulo VI vão ser transmitidas no programa ‘70×7’ deste domingo, na RTP2, pelas 11h30.

OC/CB

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