Antigo líder do CDS recorda papel do futuro beato na construção de uma nova ordem internacional
Lisboa, 18 out 2014 (Ecclesia) – O professor Adriano Moreira recorda Paulo VI, que vai ser beatificado este domingo, como o Papa que atribuiu um “novo nome à paz” com a sua preocupação pelo desenvolvimento dos povos,
“[Paulo VI] foi às Nações Unidas (Nova Iorque, 4 de outubro de 1965) e fez um discurso histórico, segundo o qual, o desenvolvimento sustentado é o novo nome da paz. Esta afirmação se comparar com a que o Papa Francisco tem repetido, que ‘esta economia mata’, mostra como estava a enunciar uma obrigação fundamental independentemente das religiões, das culturas e da situação até conflituosa dos povos”, revela o antigo líder do CDS.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, publicada na mais recente edição do Semanário digital ECCLESIA, Adriano Moreira assinala que Paulo VI, eleito em 1963, não adquiriu o mesmo mediatismo de outro Papas, como João XXIII seu predecessor, João Paulo II ou agora o Papa Francisco, mas foi a “figura dominante do Concílio Vaticano II”, que terminou em 1965.
“Na altura, uma das conclusões do concílio é que a doutrina podia aproveitar a qualquer estado. Isto tem que ver com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, um documento laico, incluir na sua carta de direitos e garantias dos cidadãos a liberdade de todas as religiões e a Igreja Católica é certamente das mais estruturadas para exercer essa liberdade”, desenvolveu.
Paulo VI foi o primeiro Papa a visitar Portugal, mais concretamente Fátima, a 13 de maio de 1967, num período em que tinha havia alguma animosidade do Governo português pela participação do líder da Igreja Católica no Congresso Eucarístico de Bombaim, depois da União Indiana ter invadido Goa.
“Não fez uma visita de Estado, não quis vir como chefe de Estado e não quis descer em Lisboa mas no aeroporto de Monte Real. É curioso ver as imagens da televisão porque o doutor Salazar foi lá e a sua atitude é do fiel perante o seu Papa”, recorda o antigo ministro do ultramar (1961-1963).
Paulo VI escreveu sete encíclicas e reconhece a participação dos cristãos na política, “numa fase em que a construção europeia assenta numa espécie de santidade” dos líderes europeus depois de “uma guerra pavorosa com “50 milhões de mortos”, analisa o professor.
Nesse sentido, Adriano Moreira destaca que hoje “não” existem “vozes encantatórias” na Europa.
“Todos eles [responsáveis políticos] aceitavam a Doutrina Social da Igreja, foi extremamente importante, principalmente no que diz respeito ao Estado Social, coincidia com a atitude o socialismo democrático”, conclui.
Estas e outras declarações, memórias e análises sobre o pontificado do Papa Paulo VI vão ser transmitidas no programa ‘70×7’ deste domingo, na RTP2, pelas 11h30.
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