João Duque apresenta reflexão sobre o tema «Igrejas ou museus?»
Braga, 08 ago 2013 (Ecclesia) – João Duque, presidente do Centro Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa (UCP), alertou hoje para a secularização dos espaços de culto que marca a cultura europeia.
“Evitemos, simbolicamente, transformar as principais igrejas de uma cidade, sobretudo as mais ricas em património cristão – e não simplesmente cultural – em meros museus, para turista ver. Caso contrário, brevemente seremos todos turistas a visitar algo estranho, de cuja herança não somos dignos”, refere o teólogo, num artigo ‘Igrejas ou museus?’ publicado no suplemento ‘Igreja Viva’ do ‘Diário do Minho’, jornal da Arquidiocese de Braga.
Segundo o especialista, as alterações que têm ocorrido desde há uns séculos são “diversamente subtis” e “pretendem substituir o ‘sagrado’ cristão por outros ‘sagrados’”.
O artigo começa por destacar o “consumo” como uma das divindades do tempo atual que também exige “rituais e sacrifícios, com um culto perene e absorvente” onde a dimensão física, pessoal e social são “secundarizadas” e colocados ao seu serviço, o que acontece, também em relação “à tradição cristã e aos seus valores”.
O docente assinala que, atualmente, “os museus passaram a ser os novos templos desta modalidade de consumo” que se verifica no turismo e na cultura.
“São locais de ‘cultivo’ individual e social, cujo conteúdo se consome como qualquer artigo de luxo” explica João Duque.
O teólogo reconhece que é possível que o turismo religioso, com a visita e a contemplação “de obras da tradição cristã”, seja um auxílio no aprofundamento da fé dos crentes e contribua para uma “interrogação existencial de não crentes”, mas considera ser necessário que sejam mostras de uma herança viva e não de algo morto com referências ao passado.
Alguns espaços arquitetónicos do património religioso, “assim como muitas obras do passado”, podem enquadra-se como museu ou nos museus, mas mesmo as “maiores e mais belas igrejas de Portugal”, necessitam de ser enquadradas para que haja a correta distinção.
Por isso, “o turismo religioso terá que ser um turismo que evite a completa musealização do património religioso”, assinala.
Esta secularização é apresentada por experiência própria pelo autor, a quem foi cobrada entrada numa catedral que funciona “simplesmente como um museu”, fora do horário das celebrações.
“Contemplar o edifício e o seu conteúdo já não é um modo de oração e de catequese – sobretudo para as crianças. É apenas mais um ato do consumo turístico, como quem vai ao restaurante comer a especialidade da região”, lamenta.
Neste sentido, o presidente do Centro Regional de Braga da UCP, interroga-se se o cristianismo, com a permissão das instituições cristãs, está a torna-se um “puro objeto de arqueologia”.
CB/OC