Património: Novas utilizações de antigas igrejas devem respeitar «memória» do espaço, diz responsável portuguesa

Diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais apresentou trabalho feito com as comunidades, em congresso promovido pelo Vaticano

Lisboa, 06 dez 2018 (Ecclesia) – A Diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja (SNBCI) disse hoje à Agência ECCLESIA que é necessária “sensibilidade” para evitar “más utilizações” de antigos espaços de culto, que nunca perdem a sua “fisionomia”.

Sandra Costa Saldanha apresentou como prioridade “manter essa memória, procurar, de alguma forma, preservá-la”.

A responsável participou, na última semana, num congresso internacional promovido pelo Vaticano, para debater o destino a dar a igrejas que deixam de estar afetas ao culto das comunidades católicas.

“Um edifício religioso, uma igreja, tem sempre uma configuração de igreja, de templo. Essa é uma preocupação que os novos usos têm de ter em consideração, olhar para a fisionomia do edifício, aquilo que está na sua génese”, assinala a diretora do SNBCI.

“Há sempre essa herança espacial, que é a de um lugar de culto, com a marcação muito definida do que eram capelas, o altar”.

Para Sandra Costa Saldanha, é necessário que exista sempre uma “articulação com a comunidade”, quando há necessidade de dar um novo uso a uma Igreja, olhando tanto para o edifício como para o património integrado e os seus bens móveis.

“As comunidades têm de estar sempre presentes nestes processos”, como parte integrante das decisões, acrescenta.

Os promotores do congresso internacional destacaram que a diminuição das comunidades cristãs, o abandono da prática religiosa e a escassez do clero têm levado ao encerramento e mesmo abandono de igrejas e outros locais de culto.

Nos trabalhos foram evocados casos de venda de igrejas e subsequentes transformações em casas, lojas ou spas.

Sandra Costa Saldanha assinalou que o tema foi debatido de forma “muito objetiva, muito subsequente, sobretudo muito frontal”, numa perspetiva “moderna”

Para a responsável, este foi um encontro “relevante”, pela oportunidade e pelo tema, “que desperta muito a atenção” de todos.

“Há muito tempo que não se fazia uma reunião que conjugasse várias conferências episcopais em volta do tema dos Bens Culturais da Igreja”, observa.

O congresso contou com a participação de 250 pessoas e relatores de 36 países, com delegações de 23 conferências episcopais da Europa, América do Norte e Austrália, numa “diversidade imensa” de experiências.

A diretora do SNBCI realça que esta é uma questão que tem crescido nas últimas décadas e terá uma “escala mundial, num futuro muito próximo”.

No final dos trabalhos, foi lido e aprovado um documento com orientações e recomendações nos casos em que uma igreja deixe de empregar-se para o culto, que serão publicadas posteriormente pelo Conselho Pontifício da Cultura.

A responsável portuguesa espera que o documento venha a ser “muito importante”, indo ao encontro das preocupações que os participantes manifestaram.

O programa incluiu uma intervenção da diretora do SNBCI, sobre a experiência portuguesa na “formação e compromisso com a comunidade”.

“Uma das questões diferenciadoras, em Portugal, relativamente ao que acontece na atuação noutros países, é o envolvimento muito significativo das comunidades”, um trabalho que “tem dado frutos muito significativos”, explicou Sandra Costa Saldanha.

Para alargar o debate, os organizadores lançaram um concurso fotográfico, nas redes sociais, com o marcador ‘#nolongerchurches’, que convidava os participantes a documentar “mais do que os casos de abandono, os da reutilização virtuosa” de antigas igrejas.

Uma das fotos vencedoras ilustra o Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa; a igreja remonta ao ano de 1389, estando ligada ao condestável do Reino, São Nuno Álvares Pereira.

OC

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Agência ECCLESIA

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