Património: «Não vamos continuar a fazer um altar e um ambão no estilo barroco, com uma arte renascentista, porque hoje temos outra linguagem» – Frei Bernardino Costa, abade de Singeverga

Catedral de Santarém tem novo altar, que apresenta «traços de modernidade»

Santarém, 17 jul 2024 (Ecclesia) – A Diocese de Santarém deu início ao Jubileu dos 50 anos da sua criação com uma Missa na catedral, esta terça-feira, onde foi dedicado o novo altar e inaugurado o novo presbitério da Sé.

“Aproveitou-se também o cinquentenário para pensar em colocar um altar que fosse feito de propósito para a Sé, e fosse dedicado dentro da própria Sé. Era oportuno e resolveu-se fazer”, disse D. José Traquina à Agência ECCLESIA, antes da celebração.

O bispo de Santarém explicou que a catedral diocesana “não teve um altar próprio quando foi constituída a diocese”; em 1975, o altar foi levado de outra igreja para a Sé, por isso, “não havia um altar próprio que tivesse sido dedicado antes”.

No 49.º aniversário da criação da diocese de Santarém e Solenidade da Dedicação da Catedral, celebrados neste dia 16 de julho, esta Igreja local deu início ao jubileu dos seus 50 anos, com uma Missa, onde fizeram “as orações próprias da Dedicação da Catedral e também as do Rito da dedicação do novo altar”.

O novo altar e o novo presbitério da Sé de Santarém, “um elemento icónico nesta efeméride”, foram desenhados e concebidos pelos monges do Mosteiro Beneditino de Singeverga, enquanto o escultor Paulo Neves foi o responsável pela execução das novas peças.

“Nós, hoje, temos quase que a obrigação também de transmitir aquilo que é essencial da fé cristã através da arte contemporânea, isto é, já percebemos que não vamos continuar a fazer um altar e um ambão no estilo barroco, já percebemos que não vamos continuar com uma arte renascentista, porque hoje temos outros meios, temos também outra linguagem”, explicou o abade do Mosteiro de São Bento de Singeverga, em declarações à Agência ECCLESIA.

Frei Bernardino Costa, que antes da celebração apresentou as novas peças do altar e do presbitério, assinalou que também não se pode dizer que “a linguagem de hoje é menos propícia do que a anterior”, salientando que “a fé cristã sobreviveu adaptando-se às culturas e aos tempos”.

“Também temos de saber ler os tempos de hoje e adaptar, isto é, que a linguagem, que a arte diga o mesmo mistério, mas realmente com os traços novos”, acrescentou.

Às vezes, podemos dizer que a arte moderna é um pouco iconoclasta, isto é, porque abdica de imagens e vai para estilos mais livres, só para exemplificar, mas a verdade é que também aí nós temos que ir um bocadinho àquilo que é realmente o fundamental da fé cristã. Muitas vezes, nós pensamos, porque temos o clichê ou estamos formatados de que só o barroco é que transmitiu verdadeiramente a arte cristã., desenvolveu o monge beneditino.

O bispo de Santarém realçou que, sendo feita uma obra nos dias de hoje, “tinha que corresponder à arte também moderna, com os traços de modernidade”.

“Penso que, com o tempo que advém, também nos vamos tornando melhor apreciadores daquela peça, daquela obra”, acrescentou D. José Traquina.

CB/OC

Os monges Beneditinos começaram a desenvolver este trabalho no Mosteiro de Singeverga, em Roriz (Santo Tirso), na Diocese do Porto, “há cerca de 10 anos”, primeiro foi o altar com os critérios que, agora, “foram também colocados em Santarém”.

“A comunidade de Singeverga, irmãos no sacerdócio, alguns senhores bispos também nos apoiaram e devagarinho foi fazendo escola, com orgulho também, mas sobretudo com a alegria de percebermos que hoje continuamos a voltar ao essencial, que é precisamente a fé vivida como uma encarnação e ressurreição”, refere frei Bernardino Costa.

O abade do Mosteiro de Singeverga lembrou a ‘arte das catacumbas’, a ‘arte paleocristã’, para perceber que eram pagãos, “que eram contratados pelos cristãos para ir ao fundo das catacumbas para pintar aquilo que eles diziam, ouviam os cristãos, o testamento cristão, e pintavam”.

“Pintavam também elementos que eram aquilo que eles conheciam, por exemplo, a representação da primavera, do verão, segundo o típico paganismo da altura. Portanto, nós temos de estar atentos a esse sinal, mas perceber que o mundo, a linguagem de hoje, também tem, como em todas as outras culturas, a capacidade para transmitir o mesmo mistério”, acrescentou.

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