Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga vai participar esta quarta-feira na entrega de um manifesto ao Papa Francisco
Lisboa, 26 mai 2015 (Ecclesia) – O diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, com outros 16 historiadores de todo o mundo, vai entregar esta quarta-feira ao Papa um manifesto sobre o património e a cultura como formas de diálogo entre os povos.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, António Filipe Pimentel realça que o património e a cultura são portadores daquilo que de “melhor foi feito ao longo dos tempos, por cada geração”, e nesse sentido são também como que “mensageiros retrospetivos da paz”.
Numa época em que muitos desses tesouros estão a ser alvo de “atentados gravíssimos”, por parte do Estado Islâmico, é fundamental “consciencializar” as pessoas para a ameaça que isso representa.
Em causa, segundo o especialista em Arte Antiga, não está apenas "a destruição de bens insubstituíveis e de primeira grandeza”, mas sim de muitos dos “valores” que definem hoje a humanidade.
Por isso, ao oferecerem o manifesto “Arte e Cultura ao serviço da paz no mundo” ao Papa, esta quarta-feira depois da audiência pública geral, os investigadores querem dar força à sua mensagem, através de uma “figura respeitada internacionalmente” e que fala “permanentemente” a favor da paz.
Para António Filipe Pimentel, a ameaça que o Estado Islâmico está a representar, não só para a vida das pessoas mas para a preservação de locais considerados património da humanidade, não pode ser encarada apenas com “escândalo” e “encolher de ombros”.
O historiador recorda que “naquela região está o berço da cultura ocidental” e ao agredirem esses espaços, os fundamentalistas islâmicos estão a “ferir” locais “sagrados” para as pessoas, independentemente de credos ou religiões.
Não o fazem por acaso, fazem-no porque sabem que aqueles locais “tem exatamente essa força”, por isso os ataques “são absolutamente encenados para serem consumidos, para passarem nas televisões”, frisa António Filipe Pimentel.
O responsável português acredita que, devido à ação do Estado Islâmico, a humanidade está pouco a pouco a perder os seus “pontos de bandeira branca”, ou seja, espaços privilegiados de comunhão, de aprendizagem, a transmissão de valores e tradições entre os povos.
Um drama que segue também a par com as dificuldades que marcam hoje a sobrevivência dos museus e outras instituições culturais.
Para o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, a Cultura, uma área já de si “pouco orçamentada”, tem sido progressivamente relegada “por razões de natureza conjuntural e económica”, para “as periferias das prioridades”.
Quando os museus têm na sua opinião “um papel fundamental, enquanto agentes dinamizadores da tal narrativa de bem-comum”, patente em cada peça que colocam à disposição dos visitantes.
Na sua estadia em Roma, entre quarta e quinta-feira, António Filipe Pimentel e os restantes historiadores, de 17 países e quatro continentes, vão participar numa conferência internacional sobre “Cultura, Arte e Paz”.
A iniciativa vai decorrer na Câmara dos Deputados, do Parlamento Italiano, e é organizada pela Fundação Foedus.
JCP