Celebração de Ramos com apelos contra «todas as mentiras, todos os egoísmos, todas as formas de violência» O Cardeal-Patriarca de Lisboa pediu neste Domingo de Ramos que não se “separe a Fé da vida”. D. José Policarpo falava na homilia da Missa a que presidiu na Sé patriarcal. Numa reflexão sobre a “actualidade da realeza de Cristo”, o Patriarca de Lisboa deixou um apelo: “Não separemos a Fé da vida, ainda que esta não siga necessariamente os critérios da Fé”. “A actualidade da realeza de Cristo consiste na plenitude da sua ressurreição gloriosa. Verdadeiramente a sua realeza não se manifesta segundo os critérios do mundo. Só é afirmada na intimidade dos corações que O adoram e vivem d’Ele, pelo dom do Espírito. A santidade é a mais autêntica afirmação da realeza de Cristo. Este é, para a Igreja, o maior desafio para a sua maneira de estar no mundo”, disse. “Se ela cair na tentação de transformar a sua influência num poder deste mundo, imita mais os fariseus do que a obediência humilde do Servo”, alertou. Segundo D. José Policarpo, “os critérios do Reino de Cristo denunciam todas as mentiras, todos os egoísmos, todas as formas de violência; convidam-nos a não pormos o coração só nas coisas materiais e na sua fruição, mas a abri-lo às realidades do alto, a alargar o horizonte da esperança”. “A Igreja não se identifica com a sociedade, mas pertence à sociedade, introduzindo nela o desafio da verdade, da generosidade, da comunhão fraterna, da referência de todas as coisas a Deus, nosso Criador e Senhor. A Igreja, em nome de Cristo, é sempre proposta e denúncia”, precisou. Na sua reflexão, o Cardeal Patriarca lembrou os 50 anos do Cristo-Rei, monumento elevado “em acção de graças por uma graça pedida: o poupar Portugal aos horrores da guerra”. “Cinquenta anos depois Ele continua lá, bem visível, a abraçar a cidade, sinal de esperança para todos os que sabem que construir uma cidade digna do homem é fruto do esforço humano e da protecção divina”, concluiu. Catequese À tarde, na sua última catequese quaresmal deste ano, D. José Policarpo falou sobre o tema “A Palavra é pessoa: Jesus Cristo o rosto da Palavra”. “A nossa experiência humana”, disse, “ensina que quando as palavras exprimem o mais íntimo de cada um, a sua verdade interior, elas são mais interpelativas, constroem comunhão, fazem desabrochar o amor e este é sempre entre pessoas”. “Quem escuta uma palavra que saiu do coração de quem a disse e tocou o coração de quem a escutou, grita por um rosto”, referiu. Para o Cardeal-Patriarca, “tudo o que é humano em Jesus, o Seu rosto, as Suas Palavras, os Seus gestos, a Sua alegria e a Sua dor, a Sua consciência e a Sua vontade, são decisivos para esta nova escuta da Palavra, para estabelecer definitivamente a comunhão dos homens com Deus, isto é, são decisivos para a salvação”. “A encarnação do Verbo deu um novo rosto e um novo dinamismo à nossa fé. Trata-se agora de acreditar em Jesus, de reconhecer n’Ele a eterna Palavra de amor que Deus tem para nos dizer, de descobrir no realismo da Sua humanidade a palavra e o rosto de Deus”, acrescentou. Citando Bento XVI, D. José Policarpo diz que “esta humanidade de Jesus, o Cristo histórico e real, em que a fé nos leva a reconhecer o rosto de Deus, encontramo-la, antes de mais, através da Sagrada Escritura, de modo especial os Evangelhos”. Nesse contexto, defendeu que “a Escritura conduz-nos a Cristo, mas Ele conduz-nos ao verdadeiro sentido da Escritura como Palavra de Deus. É por isso que na Igreja o lugar privilegiado da escuta da Palavra sempre foi a oração, sobretudo a Eucaristia”. Num olhar para as celebrações que se aproximam, na Semana Santa, o Cardeal-Patriarca indicou que as mesmas serão a ocasião de contemplar as “múltiplas expressões do rosto de Jesus Cristo e de perceber mais profundamente que, em tudo, Ele é uma Palavra de amor que Deus pronuncia para nós, em cada momento da nossa vida”. Notícias relacionadas • Catequese do Domingo de Ramos do Cardeal-Patriarca de Lisboa • Homilia do Domingo de Ramos do Cardeal-Patriarca de Lisboa