Patriarca inaugura nova igreja para o terceiro milénio

Enquanto a cidade aguarda para ver a nova catedral de Lisboa, junto a o Tejo, as novas igrejas vão surgindo no Patriarcado de Lisboa, como respostas às necessidades pastorais de uma diocese que não pára de crescer. O cardeal D. José Policarpo presidiu no passado dia 1 de Janeiro à dedicação da Igreja de Nossa Senhora da Paz (1997-2004), paróquia da Póvoa de Santa Iria, mais uma das obras que dão vida à renovação da arquitectura religiosa contemporânea. Projectada pelo arquitecto Ramos Chaves, que é também o autor dos vitrais que adornam a construção (baseados no tema da criação do mundo), a igreja em betão destaca-se pela forma circular – opção pouco vulgar no nosso país –, pela originalidade e pelo equilíbrio do espaço e dos elementos decorativos. O próprio Ramos Chaves reconhece que “a igreja da Paz foi concebida com o intuito de realizar uma peça arquitectónica única”. Os vitrais expressam a elevação espiritual e características exclusivas da arte litúrgica que não podemos encontrar a não ser dentro de uma Igreja católica”, acrescenta. À Agência ECCLESIA manifestou a certeza de que a obra será bem acolhida pela comunidade – sentimento partilhado pelo bispo auxiliar D. Tomaz Silva Nunes, que acompanhou de perto a sua evolução – e afirmou mesmo que “quem não a apreciar é porque não tem bom gosto”. O projecto agora concluído foi oferecido pelo próprio arquitecto, bem como toda a assistência no decorrer da construção. Esta ligação do autor à obra ficou ainda mais consubstanciada quando na primeira Eucaristia da nova igreja o Arq. Ramos Chaves celebrou o seu próprio casamento. O pároco local, Pe. António dos Santos, scj, deixou o desejo de que “esta igreja seja memória para quem junto dela passar, recordando que somos chamados a ser profetas do Amor, Paz e Reconciliação”. AS NOVAS IGREJAS A novidade das igrejas contemporâneas, que choca muitas vezes com definições preconcebidas do que seja uma construção religiosa, explica-se pelas tendências da própria arquitectura dos nossos dias, em particular pela utilização de novos materiais como o cimento ou o vidro, com primazia para o aspecto funcional. É evidente que neste campo é muito difícil delimitar fronteiras, saber o que é adaptar-se a novas circunstâncias sem ter de abdicar da função especifica de uma igreja. A resistência a uma adaptação a novas necessidades e circunstâncias revela-nos o carácter delicado da questão “igreja moderna”, por assim dizer. Pode tornar-se complicado inserir a especificidade de uma igreja numa cidade cada vez mais alheia aos valores que o edifício religioso encerra e transmite, seja nas suas formas tradicionais, seja em novas formas e materiais. A construção de uma igreja revela-nos elementos capazes de traduzir a nossa aspiração de infinito (escala sobre – humana, verticalidade, horizontalidade, luz, cor, vazio). A própria história da arquitectura revela esta propensão para o desprendimento, o ultrapassar da realidade terrena, deslocando-se para o sentido da desmaterialização e, portanto, da elevação do espírito. Do ponto de vista decorativo, é a simplicidade e o despojamento que dominam as igrejas de hoje: encontramos poucas imagens e mesmo pinturas não-figurativas. A luz é mesmo o elemento decorativo dominante, o único luxo que estes arquitectos não recusam. Há nesta vontade um desígnio notável de ir ao essencial, à escuta da Palavra de Deus e à Comunhão Eucarística, na linha da reforma litúrgica encetada pelo Concílio Vaticano II.

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