O pontificado de Bento XVI tem sido marcado por duas características, o “teólogo brilhante” que é e o conhecimento profundo da vida da Igreja que tem, afirmou o Cardeal-Patriarca de Lisboa. Comentando o quarto aniversário da eleição de Bento XVI, D. José Policarpo referiu, numa entrevista à Agência Lusa que o Papa tem conseguido imprimir o seu próprio ritmo, o que era desejável, pois seria “praticamente impossível seguir a esteira da maneira de ser do Papa João Paulo II”. “Para já, diminuiu muito a sua vida pública. Preservou um tempo de silêncio, de estudo, de meditação de escrita”, sublinhou o Cardeal Patriarca, acrescentando que isso era perfeitamente impossível com João Paulo II, que “era devorado pelas multidões”. Nesse sentido, Bento XVI reduziu as suas viagens, que têm sido “muito bem preparadas” e “acolhidas por multidões”. “É um dos aspectos em que ele teve de aguentar o ritmo criado pelo Papa João Paulo II. Aí só pôde diminuir o número”, gracejou. Esta diminuição no número de viagens ao estrangeiro é explicada por D. José Policarpo com a idade avançada do actual Papa, que completou Quinta-feira 82 anos. “É um estudioso que gosta do silêncio”, disse, referindo que Bento XVI tem tendência para se isolar, ao ponto de ter retomado um hábito antigo na Cúria Romana, interrompido desde Paulo VI, de tomar as refeições sozinho. Outro aspecto do pontificado de Bento XVI destacado pelo Cardeal-Patriarca é a sua permanente preocupação em evitar que o cisma de monsenhor Lefèvbre se tornasse definitivo. Essa preocupação, disse, levou-o a tomar gestos e atitudes que causaram mal-estar, desde uma “certa complacência nos ritos da liturgia até ao levantar da excomunhão” a quatro bispos integristas, no início deste ano. Uma situação que, acrescentou, provocou em Bento XVI a necessidade de explicar “que sentido tem levantar uma excomunhão quando eles ainda não estão em comunhão”. “Este é certamente um aspecto doloroso”, referiu, acrescentando que partilha com Bento XVI a preocupação de tudo se fazer para não deixar consolidar o cisma. “A Igreja, na sua construção da comunhão, tem o dever de não deixar cair nenhuma hipótese de se resolver este cisma. Mas que se resolva na fé da Igreja”, concluiu. Redacção/Lusa