Patriarca de Lisboa destaca a importância de uma nova Catedral

D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Liboa, voltou hoje a sublinhar a importância de uma nova catedral para a capital portuguesa. Na homilia da Missa Crismal, D. José Policarpo lembrou que um Bispo não é apenas um pregador, porque os seus ensinamentos são inseparáveis da sua catedral. “Perdeu-se a pouco e pouco ao longo dos tempos esta relação do magistério do Bispo com a sua Cátedra, o que acabará por fazer dele apenas mais um pregador, em que a importância do que diz depende mais do cunho pessoal que lhe imprime do que a dimensão sacramental e institucional do seu magistério de pastor. Há aqui sugestões para um longo caminho a percorrermos em conjunto”, apontou. * * * Homilia na íntegra “A Catedral, símbolo da unidade e da fecundidade da Igreja Diocesana” 1. Várias circunstâncias me sugerem que neste dia, em que o presbitério diocesano se reúne à volta do seu Bispo, na Igreja Catedral, para realizarem aquela celebração que significa a fecundidade sacramental da Igreja, para santificação dos fiéis e edificação da Igreja particular, vos fale da importância da Igreja Catedral na edificação da Igreja Diocesana, enquanto fonte da sua riqueza sacramental e símbolo da sua unidade. Os elementos circunstanciais, neste ano, a que me refiro, são: os 1600 anos do Martírio de São Vicente, e ano jubilar que nos foi concedido, fazendo da Catedral foco de graça e lugar de peregrinação; a Exortação Apostólica de João Paulo II “Pastores Gregis” sobre o ministério do Bispo, que dedica um número à importância da Igreja Catedral. O Santo Padre apresenta-a, antes de mais, como o lugar donde irradia o ministério do Bispo, em toda a sua riqueza sacramental. Diz o Papa: “Apesar de exercer o seu ministério de santificação em toda a Diocese, o Bispo tem como ponto focal do mesmo a Igreja Catedral, que constitui, de certo modo, a Igreja Mãe e o centro de convergência da Igreja Particular” . Por sua vez o Cerimonial dos Bispos define-a assim: “A Igreja Catedral, pela majestade da sua construção, é a expressão daquele templo espiritual que é edificado no interior das almas e brilha pela magnificência da graça divina, segundo aquela sentença do Apóstolo São Paulo: «vós sois o templo do Deus vivo» (2Cor. 6,16). Depois deve considerar-se como imagem figurativa da Igreja visível de Cristo, que em toda a terra reza, canta e adora; deve ser tida como a imagem do Seu Corpo Místico, cujos membros estão conglutinados pela união na caridade, alimentada pelo orvalho dos dons celestes” . Foco visível do ministério do Bispo na Igreja particular, o sentido da Catedral encontra-se na função do Bispo na Igreja Diocesana, como a define o Concílio Vaticano II: “Uma Diocese é uma porção do Povo de Deus confiada a um Bispo para que, com a ajuda do seu presbitério, seja o seu pastor. Assim, a Diocese, ligada ao seu pastor e por ele reunida no Espírito Santo, graças ao Evangelho e à Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está verdadeiramente presente e actuante a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica” . 2. Assim, na Catedral, deve tornar-se visível a união do Bispo e do presbitério, como verdadeiro sujeito colegial do múnus pastoral e do sacerdócio apostólico. Esta celebração é a expressão visível da nossa unidade, na corresponsabilidade pastoral. O Santo Padre, ao falar da Liturgia da Catedral, refere-se a esta celebração do seguinte modo: “Esta manifestação do mistério da Igreja encontra circunstâncias privilegiadas em determinadas celebrações. Entre essas, lembro a Liturgia anual da Missa Crismal, que deve ser considerada uma das principais manifestações da plenitude do sacerdócio do Bispo e um sinal da íntima união dos presbíteros com ele” . Na Catedral deveriam acontecer as principais expressões da união do Bispo com o presbitério. Continua o Papa: “Entre as liturgias mais solenes, há que incluir, sem dúvida, as celebrações em que são conferidas as ordens sacras, ritos estes que têm na Igreja Catedral o seu lugar próprio e normal” . Entre nós, por motivos práticos, não temos feito aqui essas celebrações de ordenações, o que sublinha a necessidade e a urgência de termos uma Igreja com o título e as características de “Co-Catedral”. É que se as condições físicas o permitissem, as próprias reuniões do presbitério e do conselho presbiteral ganhariam um sentido novo se fossem realizadas na Catedral. Que, pelo menos, todos os sacerdotes diocesanos cultivem o amor e interesse pastoral pela Catedral e o comuniquem aos seus fiéis, quer valorizando a festa da sua dedicação, quer elegendo-a como lugar de peregrinação, sobretudo durante este Ano Santo Vicentino. A esse propósito diz o Cerimonial dos Bispos: “Inculque-se no espírito dos fiéis, da maneira mais oportuna, o amor e veneração para com a Igreja Catedral. Para isso muito contribui a celebração do aniversário da sua dedicação, bem como peregrinações dos fiéis em piedosa visita, sobretudo em grupos organizados por paróquias ou regiões da Diocese” . 3. Foco de irradiação do ministério do Bispo, segundo o texto do Concílio, que já referimos, avulta, antes de mais, o seu ministério de evangelizador. A Catedral é a Igreja onde está a cátedra do Bispo, é o lugar do seu magistério de Pastor. Ouçamos o Santo Padre na Pastores Gregis: “Com efeito, a Catedral é o lugar onde o Bispo tem a sua cátedra, a partir da qual educa e faz crescer o seu povo através da pregação… Precisamente quando está sentado na sua cátedra, o Bispo apresenta-se à frente da assembleia dos fiéis, como aquele que preside «in loco Dei Patris». Por isso mesmo, como já recordei, segundo uma tradição muito antiga, no Oriente e no Ocidente, só o Bispo pode sentar-se na cátedra episcopal. É a presença desta cátedra que constitui a Igreja Catedral como o centro espiritual concreto de unidade e comunhão para o presbitério diocesano e para todo o Povo santo de Deus” . Esta doutrina é rica em sugestões pastorais. Realça, em primeiro lugar, a unidade de Magistério de todos os pastores do Povo de Deus. É missão do Bispo sugerir e garantir, com o seu Magistério, esta unidade de ensinamento, base da unidade da fé e, por conseguinte, da própria Igreja. A isso muito ajuda a autoridade solene da cátedra, que sublinha a dimensão diocesana do Magistério do Bispo. Perdeu-se a pouco e pouco, ao longo dos tempos, esta relação do Magistério do Bispo com a sua cátedra, o que acabará por fazer dele apenas mais um pregador, em que a importância do que diz depende mais do cunho pessoal que lhe imprime, do que da dimensão sacramental e institucional do seu Magistério de Pastor. Há aqui sugestões para um longo caminho a percorrermos em conjunto. Desde o início do meu ministério como Patriarca de Lisboa, tenho tido isso em conta: a institucionalização das catequeses quaresmais, a divulgação das homilias que pronuncio na Catedral, a valorização da festa da dedicação, a 25 de Outubro. Mas encontro dificuldade em conciliar este Magistério, a partir da Catedral, com o hábito e, porventura, a necessidade, das visitas às Paróquias e das múltiplas solicitações de Magistério que me são feitas. Há, certamente, opções a fazer, que serão mais prudentes e fecundas se surgirem de uma consciência comunional do presbitério que somos e da Igreja que queremos ser. 4. O Santo Padre sublinha, depois, a centralidade da Catedral como lugar da celebração da Liturgia, a que preside o Bispo: “A este respeito, não se pode esquecer a recomendação do Concílio Vaticano II de que «todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da Diocese que gravita em redor do Bispo, sobretudo na Igreja Catedral, convencidos de que a principal manifestação das Igreja se faz numa participação perfeita e activa de todo o Povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma Eucaristia, numa única oração, ao redor do único altar a que preside o Bispo rodeado pelo presbitério e pelos ministros». Por isso, é na Catedral, onde se realiza o momento mais alto da vida da Igreja, que tem lugar também a acção mais excelsa e sagrada do munus sanctificandi do Bispo; tal múnus, bem como a própria liturgia a que ele preside, inclui simultaneamente a santificação das pessoas, o culto e a glória de Deus” . Graças a Deus a Liturgia a que preside o Bispo, nesta Catedral, é de grande qualidade e tem crescido em beleza nos últimos tempos, para o que muito contribui o canto e a harmonia da ornamentação do templo. Mas uma exigência pastoral se nos apresenta: como conseguir que a Liturgia da Catedral seja inspiradora de qualidade para todas as celebrações da Diocese. 4. Queridos sacerdotes, meus irmãos e irmãs. Espero ter-vos transmitido, não apenas a consciência doutrinal do que significa a Catedral na dimensão da Igreja diocesana, mas também o meu amor crescente a esta Catedral, testemunha secular da longa peregrinação da nossa Igreja de Lisboa, e que nem a necessidade de construir uma nova “Co-Catedral” porá em questão. Aprendamos a contemplar, na beleza deste templo, nossa Igreja-Mãe, a beleza espiritual da Igreja nossa Mãe. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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