Pastoral Universitária em Portugal

Num futuro próximo, as várias dioceses contarão com um Serviço Nacional de Apoio. É a garantia do Presidente da Comissão Episcopal do Apostolado dos Leigos, que coordena esta área da pastoral. Caloiros. São os dias deles. Na Pastoral Universitária, o momento é de recepção a quem inicia a formação no ensino superior e de abertura de actividades pastorais. Num futuro próximo, as várias dioceses contarão com um Serviço Nacional de Apoio. É a garantia do Presidente da Comissão Episcopal do Apostolado dos Leigos, que coordena esta área da pastoral. Agência Ecclesia – Que “Pastoral Universitária” podemos encontrar nas dio-ceses de Portugal? D. António Carrilho – Eu distinguiria as dioceses que são centros universitários já antigos e que têm, por isso, uma longa experiência de Pastoral Universitária, e as dioceses que se viram “invadidas” por escolas de ensino superior e novas universidades, mais recentemente. As primeiras procuram intensificar a sua actividade e encontrar caminhos de resposta aos novos desafios, suscitados pelo novo contexto sócio-cultural e educativo; as segundas sentem-se chamadas a atender a novos espaços de acção pastoral, podendo contar com a experiência das primeiras para definirem os seus próprios caminhos. Todas elas, no entanto, estão bastante interessadas e empenhadas, como se pode concluir pelo número de actividades que estão a ser programadas em todas as dioceses, como também pela crescente participação dos responsáveis dos serviços diocesanos e de outras instituições eclesiais nos três encontros realizados em ordem à organização de um Serviço Nacional de Apoio. Este empenho manifesta-se, também, numa intensa acção conjunta de toda a Igreja, nomeadamente na Europa: ainda em Julho p.p. se realizou, em Roma, um Simpósio Europeu sobre a “Igreja e a Universidade na Europa”; em Dezembro haverá, também em Roma, um encontro de delegados das Conferências Episcopais e um Convénio sobre a mobilidade universitária e a integração europeia; em 13 de Março de 2004 será a “Jornada Europeia dos Universitários”, sublinhando a entrada na União Europeia dos novos países membros. Enfim, uma atenção crescente ao meio universitário e do ensino superior na pastoral da Igreja, em geral, e entre nós, em particular. AE – É de sempre esse interesse da Igreja pelo mundo académico? AC – Sem dúvida. As universidades nasceram ligadas à Igreja e muitas delas, ainda hoje, são “Universidades Católicas”. A Igreja sempre teve consciência da sua importância e procurou dar-lhes atenção, nem poderia ser de outra maneira. Empenhada na evangelização e na “nova evangelização”, a Igreja não pode prescindir dos espaços privilegiados para o diálogo da Fé com a Cultura, daqueles espaços que – como dizia o Papa aos participantes do último Simpósio, em Roma – são autênticos “laboratórios culturais”. Aí tem a Igreja de apresentar a sua proposta de valores que são os valores do Evangelho. Nem a Igreja pode deixar de estar presente junto dos jovens (que são a maioria dos alunos) num período que é imensamente importante para eles – tempo em que se joga a aprendizagem de um futuro, que se torna num compromisso de vida. Não pode prescindir de apresentar um conjunto de valores da Mensagem de Jesus Cristo que considera importantes, tanto em ordem à realização e à felicidade do homem, como do ponto de vista do serviço à sociedade. É, portanto, por missão que a Igreja se assume dentro deste campo: por um lado, para responder às pessoas que são a comunidade humana das escolas; por outro, olhando a própria escola na sua importância, naquilo que a constitui como escola – espaço privilegiado da cultura, laboratório cultural. AE – Que aceitação tem a Igreja no mundo académico? AC – A Igreja tem que promover um diálogo entre a fé e a cultura. Muitas vezes a dita contradição ou incompatibilidade entre a Fé e a Ciência não é mais do que a ignorância da realidade, a conse-quência da falta de uma fé esclarecida de quem, diante dos problemas e da falta de resposta para esses problemas, acaba por se dizer “descrente” e até abandonar a prática religiosa. Na evangelização dos jovens, temos, antes de tudo, de ir ao encontro deles, procurando auscultar as suas interrogações e apresentar-lhes respostas. É óbvio que perante uma eventual atitude de uma não-aceitação à partida, será difícil dialogar, nesta como em qualquer circunstância. Como é normal, no mundo académico, são diversas as reacções às propostas da Igreja. Verifica-se, no entanto, que há muita gente a alegrar-se por encontrar respostas, perspectivas e “caminhos novos”! O trabalho com os jovens, nas escolas e fora delas, é trabalho que dá alegria, porque a descoberta provoca o entusiasmo e a entrega generosa de muitos! AE – Quando surgirá e em que consistirá o Serviço Nacional de Apoio à Pastoral do Ensino Superior? AC – Queremos que nasça muito brevemente. A Comissão Episcopal do Apostolado dos Leigos apresentará à Conferência Episcopal um projecto, que foi trabalhado em três encontros nacionais com quem tem responsabilidades na pastoral do ensino superior. É uma proposta simples, que tem em conta as realidades e as circunstâncias das dioceses, pois cabe a cada uma procurar e encontrar respostas directas às questões que se lhe põem. Com o Serviço Nacional, queremos que as dioceses e outras instituições voltadas para a Pastoral Universitária tenham um espaço de encontro e partilha de experiências, de comunhão e reflexão, de proposta de actividades que se possam realizar em conjunto. Prevê-se a constituição de um Conselho Nacional, com uma Equipa Executiva, procurando esta assegurar a relação entre todos, a informação ao longo do ano e que os projectos de conjunto se realizem para todos e com a colaboração de todos. Há vontade para singrar neste caminho. No último encontro estiveram representadas 16 dioceses e 9 instituições eclesiais directamente ligadas à pastoral do ensino superior, aguardando todos que se possa institucionalizar esse caminho que juntos fomos criando ao longo do último. AE – Que acolhimento se proporciona aos estudantes de outros países? AC – Cada diocese procura dar a resposta de acordo com as necessidades e exigências que lhe são criadas. Na Diocese do Porto, há uma abertura muito grande aos estudantes de outros países que estejam aqui, há mesmo um esforço de acolhimento e integração muito grande. Penso que nas outras dioceses isso acontece também. AE – Há uma nova instabilidade no mundo académico, com o regresso da luta das propinas. Qual a sua opinião sobre esta questão? AC – É uma questão que exige serenidade e ponderação na reflexão, muita justiça e equidade nas decisões, ouvindo-se e compreendendo-se os diversos intervenientes no processo. Todos reconhecemos que a situação dos estudantes que frequentam as nossas Universidades e Escolas do Ensino Superior se encontram em situação de grande desigualdade, consoante se trata de escolas do ensino público e de escolas do ensino particular: nas primeiras, os custos são bem mais reduzidos do que nas segundas, onde cada aluno tem de assumir o pagamento total do ensino, a não ser que beneficie de apoios sociais. Não se pode cair na afirmação fácil de “não pagamos, porque os nossos pais já pagam impostos”, pois os pais dos alunos do ensino particular também pagam impostos. Para referir apenas este aspecto da questão, direi que uma solução justa e equitativa terá de ter em conta a realidade presente, que é de desigualdade.

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