Primeiro documento da Santa Sé deixa desafios a um trabalho que «nem sempre fácil, é necessário e enriquecedor» O primeiro documento que a Santa Sé apresenta sobre os ciganos, divulgado a 8 de Dezembro de 2005 foi este fim de semana reflectido junto das entidades responsáveis pela Pastoral dos Ciganos. Em Fátima, de 4 a 5 de Outubro de 2007 as Jornadas Nacionais de Informação e o 34º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos contaram com a presença de D. António Vitalino Dantas, Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana e a participação de cerca de 60 pessoas das Dioceses de Bragança-Miranda, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Leiria-Fátima, Santarém, Lisboa e Beja. Dividido em duas partes – teológica e pastoral – num primeiro momento é expressa a missão da Igreja de como “levar Cristo a todas as pessoas, de todas as culturas e etnias”, aponta o Director Nacional da Pastoral dos Ciganos, Pe. Amadeu Dias Ferreira, sublinhando à Agência ECCLESIA este “ponto fundamental”. Num segundo momento é apresentada a forma como a pastoral deve ser levada à comunidade cigana. “Trabalhar com esta etnia não é fácil”, mas as diversas dioceses e os seus secretariados vão “pondo em prática bastantes iniciativas, encontrando sucessos e fracassos e com uma grande dose de paciência”, aponta o Pe. Amadeu Ferreira. O documento, refere o responsável, “deveria ser conhecido por todos os cristãos, pois traz novidades, é fruto de um trabalho desenvolvido em vários países”, por isso a Pastoral dos Ciganos optou pela realização das Jornadas Nacionais de Informação e o 34º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos para veicular uma maior divulgação e “melhor aplicação”. Em todas as dioceses a etnia cigana se faz presente, apesar de com maior número em Lisboa e no Porto. A educação “é um dos campos onde se sente uma melhoria, devido à presença das crianças nas escolas”, a par da habitação. “As autarquias estão envolvidas neste campo também”. Da parte da própria etnia existem ainda algumas resistências à mudança. O Pe. Amadeu Ferreira lamenta que se “nos acusam de racismo, também podemos dizer que os ciganos se excluem”. Através do diálogo têm-se conseguido alguns avanços. Exemplos positivos encontram-se, por exemplo, em Peniche. Joaquim Silva, responsável pela Pastoral dos Ciganos da paróquia, explica que este é um trabalho que é desenvolvido à cerca de 18 anos, altura em que o próprio passou a Páscoa a trabalhar com esta etnia. “Este é um trabalho grandioso, não só para eles, mas pessoalmente tenho ganho muito”, garante Joaquim Silva, sem esconder que é um trabalho difícil. Ganhar a confiança é o primeiro passo a que se segue a integração na sociedade. Uma integração que pede abertura de ambas as partes. Na comunidade de Peniche “ainda não está preparada para aceitar”, exige paciência e compreensão. O trabalho é feito “muito devagarinho”, aponta o responsável pela Pastoral dos Ciganos na paróquia de Peniche. “O cigano vive o dia a dia e não se preocupa com o dia de amanhã”, aponta, indicando que o núcleo familiar é o “factor com maior importância”. Importa perceber que “os ciganos também não podem esperar tudo da comunidade, temos que os educar”, indicando que aos subsídios que lhes são fornecidos têm de ser pedidas contrapartidas. “Quem está à frente destes subsídios deve também exigir comportamentos”, sublinha. Em Peniche, através de uma equipa composta pela Segurança Social, professores de 1º e 2º ciclo e pela pastoral “conseguimos tirar frutos, que não são imediatos, mas que acontecem”. Notícias relacionadas Respeito pelos valores da cultura cigana