Enfermeiro recorda cinco semanas com as Missionárias da Caridade em Calcutá e participação em cinco edições das Jornadas Mundiais da Juventude, em particular imagem do «encontro de paz entre palestinos e israelitas»
Lisboa, 08 fev 2023 (Ecclesia) – O enfermeiro Pedro Moisés disse à Agência ECCLESIA que nenhum profissional de saúde se formou para tratar “apenas das necessidades biológicas” dos pacientes e lamenta que a falta de tempo marque hoje os cuidados de saúde.
“São Bento Menni dizia que uma pessoa vale mais do que o mundo inteiro. A enfermagem olha para a pessoa, quer cuidá-la no sue todo e esquecer o resto. E tantas vezes é difícil porque sabemos que os cuidados de saúde mudaram muito e é difícil ter tempo. Nem o médico nem o enfermeiro querem só dar resposta às necessidades biológicas do doente: nenhum enfermeiro ou médico estudou para isso, mas queremos dar resposta à pessoa como um todo”, explica o profissional, atualmente a trabalhar na área cirúrgica num hospital em Lisboa.
Tendo passado por áreas diversas nos cuidados de saúde, Pedro Moisés recorda o privilégio de ter passado pelos cuidados paliativos.
“Foi um tempo muito bom com experiências muito fortes. É um privilégio trabalhar em cuidados paliativos. As pessoas em fim de vida não têm barreiras, dão tudo e abrem-se de uma forma que nos dão muito a ganhar. E pode-se fazer muita diferença em pequenas coisas que não são para adiar. É para hoje: quando é para fazer o bem não é para adiar”, sublinha.
Em 2018, Pedro Moisés quis fazer um interregno e cumprir um sonho antigo de estar com as Missionárias da Caridade em Calcutá, na Índia, onde esteve durante cinco semanas a trabalhar na farmácia dos pobres e na casa dos moribundos, onde chegavam pessoas “literalmente apanhadas do chão, em fase terminal” e que tantas vezes “permaneciam cinco minutos antes de falecer”.
Deste tempo Pedro recorda “o amor, a tranquilidade e a esperança” que encontrou naquela casa, ao contrário do que tinha pensado.
Havia pessoas que recebíamos e que não estavam em fase terminal e uma irmã explicou-se que recebiam aquelas pessoas a quem lhes ia ser dado um banho, fazia-se a barba, dava-se uma refeição e roupa lavada. Lembro-me de ter dito à irmã: «Que desperdício, a Índia é muito grande, não se podem salvar todos». E a irmã respondeu-me «Pedro, isto é o amor. Nós gastamo-nos sem ter nada em troca e vale a pena. A pessoa vai voltar para a rua mas ela foi amada na mesma. As pessoas que apenas aqui ficam cinco minutos e depois morrem, valem a pena porque nesses cinco minutos elas foram amadas». Quando me vim embora elas disseram-me que Calcutá estava em Lisboa, que a solidão existia cá assim como pessoas a morrer sozinhas”.
Pedro Moisés cresceu numa família alargada e numa casa cheia: mais novo de quatro irmãos, os pais acolhiam também o responsável pelo Caminho Neocatecumeal da diocese de Lisboa, e com ele um missionário: “Inicialmente o missionário era português mas depois foi mudando – veio peruano, depois veio um espanhol e agora é um italiano”.
Na sua casa havia sempre lugar para mais um: “Peregrinos das Jornadas em 2011, alguns brasileiros que ficaram em minha paróquia; em 1997, madeirenses rumo a Paris; no ano passado, três seminaristas espanhóis que queriam fazer o caminho até Fátima ficaram também lá em casa”, indica.
Pedro reconhece nos pais “pessoas muito agradecidas” que sabem que o que têm não é seu e por isso, “colocam à disposição de outros”, deixando marcas de “simplicidade, de partilha, de dar e cuidar dos outros” no enfermeiro.
Com 12 anos fazia aerossóis à minha avó que vivia connosco desde que tinha enviuvado, mas também ao meu irmão Paulo que devido a uma vacina aos sete anos teve uma infeção cerebral e deixou de conseguir andar, ler e alimentar-se sozinho – os seus cuidados envolveram-nos a todos e também da minha irmã Sara que nasceu surda”.
Pedro Moisés participou em cinco edições das Jornadas Mundiais da Juventude – em Colónia, 2005, Madrid em 2011, Rio de Janeiro em 2013, Cracóvia em 2016, Panamá em 2019 – e prepara-se para estar em agosto, em Lisboa, juntamente com um grupo de jovens com quem feito o percurso «Say Yes», de preparação para a JMJ Lisboa 2023.
Em Colónia, em 2005, Pedro descobriu “uma Igreja muito viva”.
“Recordo-me de entrar em Colónia por uma das pontes e ver as bandeiras no ar, todos a cantar os mesmos cânticos mas em línguas diferentes, encontrar ruas alegres com ambiente saudável e alegre. Conheci jovens com caminhadas muito diferentes. Conheci um grupo de jovens chineses que me falaram da Igreja perseguida. Dei-me conta de uma Igreja universal e percebi a minha responsabilidade de construir a Igreja com os outros, de como me devia preocupar e rezar por eles”, recorda.
Mas há outra imagem que ainda hoje o jovem enfermeiro recorda, ao encontrar juntos jovens palestinos e israelitas.
“Quem me dera poder juntar em Lisboa jovens ucranianos e russos, porque este é um encontro de paz”, sublinha.
A conversa com Pedro Moisés pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS