Pastoral da Deficiência: Irmã Marta Couto lamenta «burocracia» e dificuldades no acesso aos apoios

«Silenciosos Operários da Cruz» concretizam iniciativa do Santuário de Fátima , que oferecer férias para pais de pessoas com deficiência

Foto: Santuário de Fátima

Lisboa, 17 jul 2024 (Ecclesia) – A irmã Marta Couto, dos ‘Silenciosos Operários da Cruz’, associação com uma missão centrada no trabalho com doentes e pessoas com deficiência, lamentou que muitas pessoas fiquem sem acesso a apoios, que existem “no papel”.

“Fala-se da questão da escola inclusiva, mas não há forma de acolher muitas das pessoas, de uma pessoa com uma paralisia cerebral grave, que precisa de muitos cuidados ou uma pessoa com um autismo muito complexo, que precisa de uma pessoa 24 horas sempre presente com ele”, disse a leiga consagrada, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A irmã Marta Couto salientou também, nas vésperas de mais uma edição de ‘Vem para o meio. Férias para pais de pessoas com deficiência’, que muitos apoios sociais “não estão divulgados” e as próprias famílias “acabam por se isolar”.

“Se eu não consigo sair porque tenho o meu filho em casa e ninguém me vem ajudar, fico ali, porque não tenho forma de ir a mais lado nenhum. Então, muitos destes casos são situações de pais que têm os seus filhos em casa e não têm ninguém, mesmo famílias que se afastam, que se separam por não saberem lidar, porque é uma realidade complexa, não é fácil num primeiro impacto lidar com uma pessoa com deficiência muitas vezes, e há mesmo, das próprias famílias, uma grande separação e um isolamento”, desenvolveu.

A entrevistada lamenta que “as burocracias são grandes e é difícil”, porque muitas pessoas que cuidam de pessoas com deficiência “já têm o dia inteiro para estar a tomar conta do filho e não conseguem estar a despender mais tempo para outras coisas” e essas burocracias “tornam-se ainda mais complexas para que possam usufruir disso”.

“As semanas de férias são uma forma simplificada de poder aceder também a algum tipo de descanso, de que estas famílias necessitam”, realçou.

Os ‘Silenciosos Operários da Cruz’, uma associação internacional de fiéis leigos e clérigos, com uma missão centrada no trabalho com pessoas doentes e com deficiência foi fundada por Monsenhor Luís Novarese (1914-1984), fazem votos de pobreza, castidade e obediência, e vivem em comunidades mistas como consagrados.

“O nosso fundador tinha muito a ideia de que todos temos algo para dar. Ele dizia muitas vezes que ninguém é tão pobre que não tem nada a dar e ninguém é tão rico que não tem nada a receber. E na sua infância passou por uma situação de doença, de tuberculose óssea, e na sua realidade de hospitalização percebeu que as pessoas doentes, as pessoas com deficiência eram consideradas quase como um objeto de cuidado”, explicou.

Segundo Marta Couto, ainda hoje vê-se “muito isso nas realidades hospitalares e institucionais” e o fundador da associação internacional ‘Silenciosos Operários da Cruz’ foi percebendo “da riqueza que é uma vida de uma pessoa com deficiência, de uma pessoa doente”.

O Santuário de Fátima, com o apoio dos Silenciosos Operários da Cruz, promove a 17.ª edição da iniciativa gratuita ‘Vem para o meio. Férias para pais de pessoas com deficiência’, são seis turnos, de 17 de julho a 9 de setembro.

“Temos voluntários que são incansáveis, por iniciativa própria têm vindo efetivamente a ajudar em muitos destes casos, a ajudar a encontrar apoios sociais, respostas mais eficazes e tudo isto são coisas que se vão criando dentro desta família e desta preocupação por estarmos juntos, criamos uma relação diferente e esta relação leva ao humor, ao cuidado, pelo próximo que não fica naquela semana, mas que se espalha ao longo”, salientou a irmã Marta Couto.

LS/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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