Páscoa: Vidas renovadas na prisão de reclusos e visitadores

Testemunhos de José Graciano Silva e Vanda Branco sobre realidade que mudou as suas vidas

Lisboa, 03 abr 2018 (Ecclesia) – José Graciano Silva é um ex-recluso para quem estar preso foi um momento de reflexão sobre a vida e as suas opções, contando com o apoio de visitadores, com quem ainda mantém contacto.

“Foi o recomeço. Sinto que sou um homem totalmente diferente. A vida que estava a levar não tinha tempo, não parava para pensar em certas coisas”, afirmou à Agência ECCLESIA.

Para José Graciano Silva, o tempo em que esteve a cumprir a sua sentença foi “suficiente para pensar nos filhos, família” e “tudo mudou”.

“Hoje estou a sentir-me bem. Graças a Deus e a pessoas que me ajudaram que estou no trabalho onde estou”, acrescentou, recordando conhecimentos que fez quando esteve preso na Ilha Terceira, nos Açores.

O entrevistado destacou que “é importante acreditar nas pessoas” e lembrou um ato de confiança que “deu muita força” quando, já em Portugal continental, um dia lhe telefonaram a pedir que levasse duas visitadoras a Fátima.

“Nunca me viram conduzir”, observa, assinalando que quando saiu da prisão o recomeço no trabalho “não foi fácil” porque não encontrou um que oferecesse garantias e ainda hoje há quem lhe deva dinheiro; diz mesmo que os primeiros 11 dias em liberdade “foram piores que os anos na prisão”.

A visitadora Vanda Branco alerta que o currículo de quem esteve preso “passa a ser ex-recluso”, é um “estigma”, e “perde-se a credibilidade”.

Neste contexto, explicou que até já sugeriu criar uma “empresa só com ex-reclusos” para que a “última atividade” não seja a passagem pela prisão.

José Graciano Silva esteve preso na Ilha Terceira onde não conhecia ninguém, mas em pouco tempo percebeu que “não estava sozinho”.

Não conhecia a primeira pessoa que o foi visitar, que se tornou presença assídua durante um ano e “hoje é família”.

“É importante reconhecer que erramos. No dia em que fui preso senti que era a vez de mudar. Lutei para isso; uma pessoa está parada, passa a noite inteira sem sono, sempre a pensar. Consegue ver as coisas boas e más”, desenvolveu.

Segundo José Graciano Silva, para além do “esforço” do recluso é preciso também encontrar ajuda e no seu caso “as pessoas acreditaram” e há mais de um ano em liberdade não perde o contacto com a ilha.

“Foram pessoas que me acolheram. Fizeram entender que para a amar, para ajudar, não é preciso conhecer a pessoa. É isso que admiro nos visitadores”, acrescenta.

Visitadora há apenas um ano na região de Lisboa, Vanda Branco assinala por sua vez que a partilha é recíproca.

“Faço o sacrifício para ir e venho de lá renovada. Farto-me de rir com eles, o retorno é imenso. Os meus amigos já têm ciúmes dos amigos lá de dentro”, conta a voluntária dos Vicentinos.

PR/CB

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Agência ECCLESIA

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