Páscoa: Ressurreição e fé cristã segundo Bento XVI

Obra do Papa emérito sobre Jesus de Nazaré sublinhava importância do «túmulo vazio» e do «salto ontológico» de uma nova existência

Lisboa, 26 mar 2016 (Ecclesia) – A ressurreição de Cristo, que a Igreja Católica celebra na Páscoa, foi apresentada pelo Papa emérito Bento XVI na sua obra «Jesus de Nazaré» como o elemento decisivo para decidir se “a fé cristã fica de pé ou cai”.

“Se se suprimir isto, certamente que ainda se poderá recolher da tradição cristã uma série de ideias dignas de nota sobre Deus e o homem, sobre o ser do homem e o seu dever-ser (uma espécie de conceção religiosa do mundo), mas a fé cristã estará morta”, assinala, no livro publicado em 2011.

“Nesse caso, Jesus será uma personalidade religiosa falhada”, acrescenta.

Joseph Ratzinger considera que a fé na ressurreição “não contesta a realidade existente”, mas afirma “uma dimensão ulterior”, sem que isso esteja “em contraste com a ciência”.

“Só poderá verdadeiramente existir aquilo que desde sempre existiu?”, questiona, antes de declarar que “na ressurreição de Jesus, foi alcançada uma nova possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos”.

A obra refere que a ressurreição de Jesus foi “a evasão para um género de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso – uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”.

Para Joseph Ratzinger, “se na ressurreição de Jesus se tratasse apenas do milagre de um cadáver reanimado”, em última análise isso não interessaria “de forma alguma”.

“Para as poucas testemunhas – precisamente porque elas próprias não conseguiam capacitar-se disso –, foi um acontecimento tão revolucionário e real, tão poderoso ao manifestar-se-lhes que toda a dúvida se desvaneceu, e elas, com uma coragem absolutamente nova, apresentaram-se diante do mundo para testemunhar que Cristo verdadeiramente ressuscitou”, prossegue.

Bento XVI afirma que o sepulcro onde Jesus foi colocado após a crucifixão tem de estar vazio, até hoje, vendo nisso “um pressuposto necessário para a fé na ressurreição”.

O segundo volume da trilogia de Joseph Ratzinger sobre «Jesus de Nazaré» assinala que “se o sepulcro vazio, como tal, não pode certamente provar a ressurreição, permanece porém um pressuposto necessário para a fé na ressurreição, uma vez que esta se refere precisamente ao corpo”.

“Essencial é o dado de que, com a ressurreição de Jesus, não foi revitalizado um indivíduo qualquer morto num determinado momento, mas se verificou um salto ontológico que toca o ser enquanto tal”, aponta ainda. Esta questão, sublinha, é "o ponto decisivo" da sua pesquisa sobre a figura de Jesus.

O Papa emérito lembra que “era fundamental para a Igreja antiga que o corpo de Jesus não tivesse sofrido a decomposição” e destaca a própria deposição no sepulcro, a respeito da qual aborda, brevemente, o tema do Santo Sudário.

Três Evangelhos (os chamados sinópticos, dada a sua semelhança) falam num lençol com o qual se envolveu Jesus, mas o texto de São João usa o plural – “«panos» de linho” – segundo o uso judaico.

No capítulo da obra dedicado à «ressurreição de Jesus da morte», Bento XVI refere que a mesma “ultrapassa a história, mas deixou o seu rasto na história”.

OC

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Agência ECCLESIA

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