José Dias foi sem-abrigo e reencontrou o seu caminho junto da Comunidade Vida e Paz
Sobral de Monte Agraço, Lisboa, 04 abr 2015 (Ecclesia) – José Dias, funcionário da Comunidade Vida e Paz há três meses, relata o seu processo de renascimento depois de viver emoções fortes pela perda do emprego, dos pais, e a passagem “difícil” pela condição de sem-abrigo.
“Depois de estar aqui quase três anos, foi-me dada a oportunidade de passar a funcionário, isso é um renascer e o mais importante”, explicou José Dias, numa entrevista que integra a mais recente edição do Semanário ECCLESIA e o próximo programa ‘70×7’ (domingo, 11h30, RTP2).
Neste contexto, revela que não está “diferente” mas “mais preparado, consciente para a vida” porque passou por situações que apenas conhecia de ouvir falar mas não as tinha vivido.
“O tempo de rua e aqui acrescentei à minha vida experiências que a enriquecem, não sei se fazem de mim melhor pessoa mas pelo menos mais rica”, acrescenta o entrevistado que depois de seis meses na Comunidade Vida e Paz (CVP) “estava mais restabelecido” do seu estado emocional e encontrou “paz”.
José Dias considera que “cresceu” com as dificuldades e descobriu o verdadeiro significado da palavra amigo porque estes encontram-se quando a pessoa “está mal”.
“Aqui encontrei pessoas que não me conhecia de lado nenhum e ao fim de pouco tempo, sabendo as minhas dificuldades e necessidades, ajudaram-me sem eu pedir”, desenvolve quem agora “preza muito mais” o significado desta palavra.
Outro fator que ajudou no processo de reaprendizagem e renascimento do entrevistado foi participar na oficina de olaria, uma área “que já gostava” e frequentemente ia a exposições.
O funcionário da Comunidade Vida e Paz, na Quinta do Espirito Santo, em Sobral de Monte Agraço, recordou um percurso de vida estável, fundada em alicerces familiares fortes, que começou a desmoronar quando ficou desempregado e passado pouco tempo o pai faleceu.
As duas situações, por volta dos 41 anos, destabilizaram a vida de quem profissionalmente fazia medições e orçamentos de obras de construção civil.
José Dias conta que foi viver com a mãe, que era o seu “suporte de vida sobretudo emocional”, que ao ver o filho desempregado perguntava-lhe: “O que será de ti meu filho quando eu falecer?”.
Foi este acontecimento, há três anos, e o facto de estar “desiludido com a vida” porque não encontrava trabalho que resultou na “pior fase”, durante a qual passou, por 12 dias, pela situação de pessoa sem-abrigo.
“Pedir ajuda não custa, tem que se ter coragem, temos de assumir que precisamos. Difícil era o que mexia interiormente, a autoestima a destruir. Sempre ouvi falar disso mas agora era eu”, explica.
Para o interlocutor “complicado” não foi viver na rua mas gerir as emoções, “o que se vê, as conversas que se ouvem, saber como lidar com as pessoas”.
José Dias disse ainda que quando assinou contrato com a CVP, escreveu na rede social Facebook à sua mãe, para dizer que “com a ajuda de alguém ia recomeçar a vida”.
“Agora acredito que já está a descansar em paz”, concluiu.
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