Pedro Vaz Patto sublinha necessidade de superar lógica da guerra, com nova ordem internacional
Lisboa, 17 abr 2022 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica, afirmou que as imagens de destruição e guerra que marcam a Páscoa deste ano devem inspirar uma nova ordem internacional, que procure a paz.
“Todos os dias vemos imagens de destruição de morte, de pessoas que fogem e que deixam tudo, deixam a sua família, têm de separar-se da sua família para ter um lugar mais seguro. Vemos imagens de massacres de inocentes. Deus identifica-se com todo este sofrimento”, refere Pedro Vaz Patto, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença neste domingo.
O responsável destaca que a mensagem da Páscoa mostra que Deus “não é indiferente ao sofrimento das pessoas” e se identifica “com as vítimas de injustiça”.
“É isto que nos lembra a Páscoa, mas também nos lembra, que é a Ressurreição, e a Ressurreição diz-nos que a morte e a violência não têm a última palavra e, portanto, está nos uma esperança que nos permite enfrentar de outra forma todas estas realidades”, acrescenta.
O juiz desembargador sublinha a necessidade de questionar a nova ordem internacional que vai ser criada depois desta guerra na Ucrânia, sublinhando que, “da parte do Papa há propostas no sentido da limitação, do desarmamento”.
“Não devemos pensar numa nova ordem internacional que seja o renascer daquilo que se experimentou antes da II Guerra Mundial”, adverte.
Na guerra não vale tudo e quando estão em causa crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio, é afetada a humanidade no seu todo”.
O presidente da CNJP sustenta que “nunca é de festejar a morte” e admite que, do ponto de vista da doutrina católica, é preciso ponderar, quando se faz uma opção pela defesa armada, se as consequências da guerra não serão “mais graves do que as consequências de não atuar”.
Pedro Vaz Patto admite que uma viagem do Papa a Kiev seria “um gesto simbólico de solidariedade para com as vítimas da guerra”, mas admite que possam faltar as condições para a mesma.
O objetivo, sublinha, é sempre “não fechar a porta a uma eventual possibilidade de negociação, em que o contributo da Santa Sé possa ser importante”.
O entrevistado admite que, por causa da guerra, “os tempos que se aproximam não são os mais favoráveis” e aponta ao desafio do acolhimento dos refugiados, no qual “a sociedade civil tem agido com grande generosidade”, pelo que se exige a ajuda do Estado nestas iniciativas.
“Tal como na pandemia, as consequências não se revelam de igual gravidade para todos, também em relação a estes fenómenos da inflação, há quem sofra mais e quem sofra menos. Normalmente são os que já estão pior que sofrem mais”, prossegue.
Questionado sobre um eventual referendo sobre a legalização da eutanásia em Portugal, o presidente da CNJP sustenta que a consulta se justificaria, sublinhando que “os dois maiores partidos não tomaram uma posição durante a campanha eleitoral e estão divididos”.
Na pandemia, recorda, “grandes sacrifícios foram tomados para salvaguardar a vida das pessoas mais vulneráveis, dos idosos”.
“A eutanásia também contradiz esta missão essencial da profissão de médico, que é salvar as vidas, que é salvaguardar a vida humana, em todas as situações, até o seu fim natural”, insiste.
O presidente da CNJP alude às limitações impostas pela Covid-19 para sublinhar que “há uma dimensão comunitária, pública, do fenómeno religioso que não pode ser esquecida”.
“É bom que haja este retomar das celebrações, das tradições próprias da Páscoa, são motivo de alegria. Também nos ajudam a viver a Páscoa nesta dimensão, porque não o fazemos sozinhos, mas fazemo-lo como comunidade”, conclui.
Octávio Carmo (Ecclesia) e Henrique Cunha (Renascença)