Luís Ascenso, doutorando em Estudos Culturais, apresenta programa cultural e religioso de momentos que marcam a história da vila há 422 anos
Lisboa, 14 abr 2025 (Ecclesia) – A vila de Óbidos está a celebrar a Semana Santa com um programa cultural e religioso diverso, incluindo procissões, concertos e exposições, seguindo uma tradição com mais de 400 anos.
“Há notícia da Semana Santa de Óbidos desde 1603”, refere Luís Ascenso, doutorando em Estudos Culturais, em entrevista à Agência ECCLESIA, transmitida hoje na RTP2, indicando que as celebrações têm início no primeiro domingo da Quaresma, com a procissão penitencial da Ordem Terceira.
Segundo explica o entrevistado, são apresentadas nove figuras, de roca, relacionadas com o culto da Ordem Terceira, que foram feitas em 1849, em Braga, realçando que um dos andores, de Santo Ivo, é transportado pelas forças da GNR, que tem o quartel dentro de Óbidos.
Do programa religioso faz parte também a procissão da mudança de imagens das igrejas, para haver o encontro entre Nossa Senhora das Dores e Senhor Jesus dos Passos, e as procissões dos Ramos e dos Passos, que deram início à Semana Santa este domingo.
Luís Ascenso destaca a presença de uma figura icónica na procissão dos Passos, que funciona quase como um carrasco, dando conta que, “no fundo, está ali a penalizar o Senhor” e “transporta um serpentão”.
“Ninguém sabe quem é que lá está, no interior da máscara, mas é feito como uma penitência, portanto, a pessoa oferece-se para servir de gafaú”, elucida, desenvolvendo que antigamente, por tradição, a figura era “feita por homens”.
“Curiosamente, há três, quatro anos para cá, é substituído por mulheres, portanto, há aqui, de facto, uma ressignificação, no fundo, destas tradições”, refere.
O tríduo pascal, ciclo central ligado o calendário católico ligado à morte e ressurreição de Jesus Cristo, é assinalado também com a celebração da Paixão do Senhor, Via Sacra (momento teatral), procissão do Enterro do Senhor, vigília pascal e missa da ressurreição.
O programa cultural inclui três concertos no Santuário do Senhor Jesus da Pedra, sendo eles ‘In Memoriam Sacrificii’, com a Orquestra e Coro da Academia de Música de Óbidos (14 de abril); o Concerto do Coro Masculino e Dueto, com finalistas da Academia de Música de Óbidos (15 de abril); e ‘Domine Deus’, pelo Coral Alma Nova & Sinfonietta de Óbidos, (16 de abril).
“E também temos, ultimamente, há três anos para cá, a introdução de uns tapetes de flores de sal, que vêm precisamente do norte” e que vão estar em exposição, assinala.
Sobre a turistificação dos acontecimentos da Semana Santa, palavra que é objeto de investigação no doutoramento de Luís Ascenso, o entrevistado olha para esta como um “desafio”: “Se nós não tivermos turistas, tudo acaba”.
“Também temos de ter, por vezes, algum grau de tolerância também com os outros, que nos visitam. Logicamente, com um japonês, não se pode aceitar que, no fundo, seja cristão, que os há também, mas qualquer das formas, nós temos que também tolerar certas culturas, mas de forma também que eles nos respeitem a nós”, realçou.
A Igreja Católica iniciou, com a celebração dos Ramos, a Semana Santa, momento central do ano litúrgico, que recorda os dias da prisão, julgamento e execução de Jesus, culminando com a Páscoa, que assinala a ressurreição de Cristo, a mais importante festa do calendário católico.
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