Páscoa a Leste

Celebrações têm ritos e ritmos próprios, que também já são vividos em Portugal

A Páscoa é a primeira festa cristã em importância e antiguidade, pelo que não admira que já no Concílio de Niceia no ano 325, haja prescrições sobre o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa, conforme os cálculos astronómicos (primeiro Domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio da primavera): de 22 de Março a 25 de Abril.

Estas datas têm como referência, entre nós, o chamado “calendário gregoriano”, introduzido em 1582 pelo Papa Gregório XIII. Contudo, as Igrejas de rito Bizantino, para a celebração da Páscoa, seguem até hoje o “calendário juliano”, que apresenta um atraso de 13 dias em relação ao nosso calendário civil.

Em 2010 dá-se a coincidência de celebrar a Páscoa no mesmo dia, isto é, em 4 de Abril do calendário civil.

Em Portugal, são muitos os imigrantes de Leste greco-católicos ou da Igreja Ortodoxa que celebram, muitas vezes em conjunto, de acordo com este rito.

Tríduo Conclusivo

Na Quinta-feira, a Missa é celebrada conforme o formulário de São Basílio, usado somente dez vezes durante o ano. Este é mais extenso do que o formulário de São João Crisóstomo, usado habitualmente.

O Evangelho que se proclama é composto de uma série de trechos extraídos dos vários evangelistas, sendo a perícope mais longa do ano e compreendendo a narração completa da última Ceia, a traição de Judas e a prisão nocturna de Jesus no jardim das Oliveiras.

A cerimónia do lava-pés, que se faz logo em seguida, é reservada às Catedrais, onde o bispo lava os pés de doze sacerdotes.

Na noite da Quinta-feira Santa antecipa-se o ofício das Matinas da Sexta-feira Santa, isto é, o “Ofício dos Doze Evangelhos da Paixão”, com grande participação dos fiéis que escutam a leitura segurando na mão uma vela acesa.

Sexta-feira

Na Grande Sexta-feira não se celebra nem a liturgia eucarística. Tem lugar a exposição do “Sudário” – o santo Epitáphion, rectângulo de pano que leva pintada e bordada a figura do Cristo Morto.

A parte mais característica das celebrações é o ofício das Matinas (órthros) com os célebres Enkómia (elogios). Junto ao sepulcro do Cristo, representado no Epítáphion, a liturgia sugere elogios e lamentações, intercaladas a versículos do salmo 118 e a outros textos.

Nas “Matinas de Jerusalém” em que se fazem três leituras vetero-testamentárias e a leitura do evangelho (composição de trechos tirados de Mateus, Lucas e João), dá-se o rito da Sepultura. O Epitáphion, após colocado sobre o altar, é depositado sobre uma mesa (ou túmulo), preparada no centro da igreja, onde permanecerá até o início da Vigília Pascal.

Vigília Pascal

Na Vigília Pascal tem lugar a tradicional “Bênção da Páscoa”, que consiste na apresentação de alimentos que são benzidos pelos sacerdotes.

A solenidade da Ressurreição de Cristo possui uma importância única no Oriente cristão e ocupa por si um lugar, acima mesmo das “Doze grandes festas.” É precedida por 10 semanas de preparação, cujos ofícios litúrgicos estão contidos no Triódion penitencial, ao passo que as 8 semanas que se seguem à festa da Páscoa – até Pentecostes e ao Domingo de Todos os Santos – estão contidos no Triódion luminoso ou Pentikostárion.

A Páscoa é o apogeu do ano litúrgico bizantino: é a “festa das festas,” a “rainha das festividades,” o “primeiro e oitavo dia”; só para repetir algumas expressões da celebração litúrgica. É essa a razão pela qual ela não está na lista das Grandes festas, pois tudo converge para ela.

Igrejas particulares e ritos

O Concílio Vaticano II explica no Decreto Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas do Oriente) que tanto no Oriente como no Ocidente há católicos que, “sob o governo pastoral do Romano Pontífice, que sucede por instituição divina a São Pedro no primado sobre a Igreja Universal”, têm diferenças entre si nos seus ritos: “Liturgia, disciplina eclesiástica e património espiritual.”

Esta diversidade de ritos, diz o mesmo documento, “não só não prejudica a unidade da Igreja Católica como a explicita”. O rito bizantino, portanto, não significa uma separação de Roma, mas traz consigo uma riqueza espiritual que ajuda compreender e concretizar a universalidade da Igreja.

Calendário Juliano

É um calendário solar criado em 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César para trazer os meses romanos a seu lugar habitual em relação às estações do ano, confusão gerada pela adopção de um calendário de inspiração lunissolar. César impõe 12 meses com duração predeterminada e a adopção de um ano bissexto a cada 4 anos.

No ano da mudança, para fazer a concordância entre o ano civil e o ano solar, ele inclui no calendário mais dois meses de 33 e 34 dias, respectivamente, entre Novembro e Dezembro, além do 13º mês, o mercedonius, de 23 dias. O ano fica com 445 dias distribuídos em 15 meses e é chamado de ano da confusão.

Esse calendário começa a ser substituído pelo calendário gregoriano a partir do século XVI – a Rússia e a Grécia só fazem a mudança no século XX.

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Agência ECCLESIA

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