Nelson Ribeiro, diretor de Programação da Rádio Renascença e professor auxiliar da UCP
Comunicar é um ato de partilha. Como tal, a mensagem do Papa Bento XVI para o Dia das Comunicações Sociais de 2012 remete-nos para a essência do processo comunicacional já que este não pode existir sem o cultivo do silêncio. Afinal, é através dele que podemos aprofundar o nosso pensamento e desta forma discernir sobre o que queremos partilhar com o “outro” para que possamos estabelecer com ele uma verdadeira relação. Se entendermos a comunicação de outra forma, por exemplo como uma mera transmissão de informação, que não leva o “outro” em linha de conta, então poderemos abdicar dos momentos de silêncio nos quais descobrimos a razão de ser do que nos leva a querer comunicar. Contudo, isso não é a verdadeira comunicação que, como nos lembra o Papa, deve gerar “um conhecimento comum autêntico”.
Entendida como uma relação dialética entre os vários intervenientes, a comunicação é uma realidade exigente para todos no dia a dia, e particularmente para aqueles de entre nós que se exprimem através dos meios de comunicação social. Se há algo que as últimas décadas de investigação sobre os efeitos da comunicação nos ensinaram é que é impossível falar de comunicação sem referir o papel do recetor que, como lembra o sociólogo Dominique Wolton, “raramente está onde se espera, compreende mais vezes outra coisa do que aquilo que lhe dizemos, ou que desejaríamos que ele compreendesse pelo som, a imagem, o texto, ou os dados” (Wolton, 2005). Ainda assim, e apesar desta visão não muito otimista sobre as verdadeiras possibilidades da comunicação humana, o facto de enquanto emissores nos preocuparmos com o nosso recetor aumenta certamente a probabilidade de sermos bem-sucedidos na nossa missão de comunicar.
Ainda que no atual ambiente digital a ideia de interatividade tenha assumido um lugar central, pelo menos do ponto de vista do discurso, a verdade é que, na profusão de mensagens que hoje nos chegam das mais variadas formas, não é difícil encontrar quem comunique, ou tente comunicar, não reconhecendo a inteligência do recetor, comportando-se como se este se limitasse a receber a informação que lhe é enviada. Como Wolton sublinha, é de esperar que estes emissores, que não respeitam a inteligência do “outro”, sejam surpreendidos com a “incomunicação” que está cada vez mais presente sobretudo em sociedades culturalmente diversificadas que o processo de globalização tem vindo a construir. Ter em atenção o “outro” (entendido enquanto recetor) e ser capaz de discernir sobre o que realmente se quer comunicar e com que objetivo é um desafio exigente para todos aqueles que usam os meios de comunicação para partilhar ideias e também para aqueles que são responsáveis pela formação de novas gerações de comunicadores que irão certamente atuar num mundo cada vez mais multicultural.
Mas o desafio do silêncio não é apenas para os emissores e para aqueles que comunicam através dos meios de comunicação social. Enquanto recetores confrontamo-nos todos nós com a mesma necessidade de fazer silêncio e discernir sobre o que realmente é importante reter de toda a informação que nos chega quer estejamos em casa, na rua ou no trabalho. Na contemporaneidade, marcada por um fluxo de informação avassalador, esta capacidade de parar para pensar sobre tudo aquilo que nos chega é cada vez mais fundamental. Para tal, como lembra Bento XVI, o silêncio torna-se essencial pois é nele que podemos distinguir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório.
Nelson Ribeiro, diretor de Programação da Rádio Renascença e professor auxiliar da UCP