As palavras de D. José Policarpo sobre um novo referendo à despenalização do aborto mereceram comentários em sentidos muitos diversos dos partidos com assento parlamentar. O Cardeal-Patriarca de Lisboa disse que esta é uma questão de “ética fundamental” e não “eclesiástica”. “O aborto é uma questão de ética fundamental, de direitos humanos. Gostaríamos muito que fossem os leigos, os país e mães de família, os médicos, os homens de ciência a liderar a campanha pelo «não»”, indicou, em encontro com jornalistas. Ao afirmar que o aborto “não é um problema religioso”, D. José Policarpo lamentava os “equívocos” de alguns debates em torno da questão. Agora, segundo o jornal “Público”, todos os partidos concordam com a afirmação em si, mas fazem leituras radicalmente distintas das mesmas palavras. PS e BE consideram que D. José Policarpo desloca a questão para o plano político, revelando abertura para posições mais livres dos católicos, enquanto o CDS considera haver antes um apelo implícito aos não-católicos para se envolverem no debate. “É uma declaração doutrinariamente muito relevante porque coloca a questão no terreno do debate político”, referiu Alberto Martins, líder da bancada parlamentar do PS. “Claro que o aborto não é uma questão religiosa, isso seria reduzi-la, ela está para além de qualquer credo”, considera José Paulo Carvalho, deputado do CDS/PP e presidente da Federação Portuguesa pela Vida. Em seu entender, considerar que há nas palavras do Cardeal-Patriarca alguma libertação dos católicos quanto à decisão a tomar no referendo que poderá acontecer nos próximos meses é “desler o que o Patriarca disse”. “A minha interpretação é que o Cardeal quer tornar a questão mais abrangente, não reduzir o tema a católicos mas fazer um apelo para que todos participem”, afirmou ao Público.