Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Em férias ou em busca de uma vida melhor, deslocamo-nos, quase incessantemente. Fazemo-lo, normalmente, com a ideia de que vamos para um sítio de onde não somos, com raízes no local desde o qual partimos. Uma noção propícia a sentimentos de separação, de saudade, centrados no que deixamos para trás em troca de sonhos e desafios.
A vida mostra-nos, porém, que nem sempre é assim: pertença é também – sobretudo? – o local para onde nos projetamos, para onde o nosso caminho nos leva, em função de opções, contingências, limites ou superações. Em descoberta de uma realidade mais profunda, para lá das aparências, com o desafio à renovação interior, à transformação da sociedade. Onde quer que seja, com um horizonte de humanidade que deveria ser património comum, não uma utopia.
Somos desafiados, enquanto humanos, a recomeços radicais, a “largar tudo”, acreditando que cada projeto é capaz de dar sentido à vida, elevando-nos sobre o que nos rodeia. Deveríamos ter sempre orgulho nessa construção, sem vergonha de chorar de alegria, de emoção, porque essas lágrimas moldam a nossa vida.
A vida tem formas muito bonitas de nos mostrar que estamos no caminho certo, também. Mesmo nos momentos de maior “solidão” de qualquer humano, quando está dependente da sua voz, do seu saber e do seu amor pelo que faz. Felizmente, por trás dessa solidão está um mundo de admiração e afetos que nos leva para a frente e ajuda a viver para lá da sobrevivência, da escravatura diária na qual nada mais importa além do “eu” – nem a arte, nem a comunidade, nem o amor.
É uma viagem em que aprendemos a sair de nós, sem deixar o nosso lugar, aceitando que somos um mar que outros navegam. O outro que tem rosto; não o indefinido, mas o que está diante de nós, aquele a quem não podemos virar a cara nem as costas. Esta oferta de fraternidade inspira-se, no caso dos católicos, naquilo que Jesus Cristo fez e disse, na herança que deixou aos discípulos de todos os tempos.
Todos procuramos respostas e nada volta diferente, no final. Mas que este percurso seja feito tu a tu, de olhos nos olhos, e não de costas voltadas. Porque todos pertencemos, em última instância, ao local onde chegamos.