Partes de uma Europa Unida

A propósito da Europa é bom recordar o que agora vai ser votado: a escolha dos deputados do Parlamento Europeu da União Europeia (27 países). Outra coisa é a Comissão Europeia e outra ainda o Conselho da União Europeia (que não se deve confundir com o Conselho da Europa que reúne 47 países e tem sede em Estrasburgo). Aquele é a instância operacional das grandes decisões políticas e estratégicas para a EU e reúne os 27 chefes de Estado ou de governo dos países membros, ou os ministros dos vários países segundo o tema em discussão, presidindo a cada reunião o ministro respectivo do país que detém no momento a presidência.

É um facto que a União Europeia pode ser uma coisa muito boa e já o tem demonstrado. Basta olhar para o desenvolvimento de Portugal para perceber o que se tem conseguido com o facto de sermos membros da UE. Contudo, através de uma série de manigâncias políticas e de jogos de palavras, têm saído directivas, e outras se anunciam, que ultrapassam o âmbito das suas competências e que mostram como há vários grupos de pressão que tentam, longe dos cidadãos, fazer vingar as suas posições. Tem-se visto que, na realidade, questões como o aborto, a família e o casamento, a educação, a presença pública das religiões, etc., que deveriam ser da exclusiva competência dos Estados, acabam por ser tratadas pela EU e geralmente para introduzir orientações morais contrárias às da tradição cristã europeia.

Vemos através de vários sinais que têm saído da "Europa", o crescimento daquilo a que se chama laicismo, ou seja, de uma corrente de pensamento que pretende fechar tudo o que diz respeito à religião na vida privada e proibir a expressão pública da fé. Este laicismo pretende, ainda, que todos os princípios morais que a Igreja defende, simplesmente por serem defendidos pela Igreja, não podem ser tidos em conta na Europa Laica. Surge com cada vez mais força a imposição do relativismo moral, que Bento XVI não tem parado de condenar porque destrói a possibilidade real de uma construção social justa.

A Igreja não tem estado fora da Europa e não é, de modo algum contra a Europa, ainda que possa não querer "qualquer Europa". Para estar dentro das questões, existe uma comissão com um secretariado em Bruxelas para acompanhar o que se vai fazendo na União europeia (COMECE). A Santa Sé tem também um Núncio apostólico junto da União Europeia, que tal como para os outros Estados, tem a função de embaixador que está atento aos assuntos ali tratados. O Vaticano, porque também ele é um Estado, tem, ainda, o lugar de Observador Permanente no Conselho da Europa. Além disso, há vários grupos e "Think tanks" católicos que tentam influenciar as decisões tomadas nestas instâncias. A grande diferença é que os "outros" têm orçamentos elevadíssimos e os nossos vivem de pequenos donativos! A outra importante possibilidade de estarmos presentes é a de, através do nosso voto, escolher deputados que nos possam defender. Mais significativo seria que mais católicos se mostrassem disponíveis para a vida política.

A escolha dos deputados, como tem vindo a ser dito pelos episcopados de toda a Europa, embora não seja capaz de resolver todos os problemas, é algo que pode ter uma enorme importância. Escolher quem promova a vida, a família, a subsidiariedade e a liberdade de iniciativa, e que defenda a liberdade religiosa, e não votar em quem defende coisas contrárias ao bem comum, como o aborto ou a eutanásia, está ao nosso alcance e é nossa responsabilidade.

Não se espere que defender a Verdade, como fez João Baptista, possa ser "agradável". Jesus nunca nos prometeu um paraíso na terra, mas sempre nos convidou a segui-Lo pegando na cruz para amarmos os homens e as mulheres como Ele nos amou e, assim, podermos melhorar a vida de quantos nos rodeiam. Fazendo o que podemos à luz do que a Igreja ensina, dá-nos uma enorme alegria, própria de quem recebe de forma consciente, todos os dias, a vida de Jesus.

Pe. Duarte da Cunha,
Secretario Geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa

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